sábado, 2 de junho de 2012

Formação de Equipes e Liderança: Lado A - Lado B

Todo mundo tem alguma experiência, boa ou ruim, para contar sobre equipes, participando ou formando. A complexidade crescente, efeitos de globalização, avanço de tecnologia, aumenta ainda mais a relevância do tema sobre formação de equipes. Não há como falar sobre equipes sem falar sobre liderança, porque os temas estão intimamente ligados. Neste post, vou abordar aspectos relacionados mais voltados à formação de equipes, mencionando a importância do papel de liderança a ser assumido pelos indivíduos participantes do processo, mas sem aprofundar. O tema de liderança, virá no próximo post (Lado B – Lado A).

Um grupo, conforme o livro “Comportamento Organizacional” (Robbins et all), é formado por dois ou mais indivíduos, interdependentes e interativos que se reúnem visando atingir um determinado objetivo. Até aí, tudo bem. Mas como fazer com que este grupo torne-se uma equipe? A grande diferença vai estar em como os indivíduos interagem entre si de forma a alcançar um desempenho maior que a soma de suas contribuições individuais. Aqui, começa o problema! Não com o conceito, mas com o efeito prático de fazer isto acontecer no dia-a-dia. Afinal, quantos grupos podem, de fato, ser chamados de equipe?

O principal aspecto relacionado com a pergunta anterior resulta na criação de um objetivo comum, capaz de motivar os indivíduos a colaborarem para o alcance do resultado final. Quero deixar claro aqui, que não estou falando da visão romântica de formação de equipe onde todos se confraternizam, mas da formação de equipes onde todos se respeitam, respeitam as individualidades, aceitam as diferenças e assumem seus papéis em nome de um objetivo maior, de grupo, cada qual tendo seu interesse específico. Quantos grupos vocês já viram que falharam na criação deste objetivo maior, ou na comunicação deste objetivo e, principalmente, na motivação dos indivíduos para engajarem-se. Indivíduos têm características e necessidades distintas. Uns são mais autônomos, outros menos, mas todos dependentes de alguém que orquestre o andamento do grupo e não das partes, individualmente. Isto, primeiramente, só é possível se existe um propósito consistente, legítimo, para construir a criação de um projeto e do alcance de seus objetivos. Juntar bons “jogadores” e exigir que cada um, separadamente, um crie seu objetivo e que eles se empenhem em atingi-los, esperando que a soma dos objetivos individuais seja o objetivo do grupo, me parece algo frágil: seria o equivalente a um bom time, com uma liderança fraca.

Aspectos importantes relacionados com a formação de equipes:
- O processo seletivo: quem serão os agentes que participarão desta equipe, qual o papel esperado de cada um, quais os valores desta equipe, quais os valores dos indivíduos e, como vimos em um post anterior, o que motiva estes indivíduos a moverem-se em função de um objetivo. Se estes aspectos não forem cuidadosamente levados em consideração na formação da equipe, corre-se o risco de termos talentos mal utilizados ou equipes inconsistentes. A heterogeneidade será boa para fomentar novas ideias, mas pode ser fonte de conflito, como veremos mais adiante.
- Preparação dos indivíduos: Não basta ter gente talentosa. Não basta acreditar que estão preparados. Há que se certificar disto e promover a preparação necessária para que o papel seja desempenhado da maneira que se espera, focando-se no objetivo, nos valores. Isto é atribuição da liderança, quer seja na identificação de gaps, quer seja na contribuição para o fechamento desses.
- Recompensa: Voltamos à pergunta de um post anterior. O que move o indivíduo? Qual a recompensa que este indivíduo espera receber (material ou não). Como criar o vínculo entre os indivíduos? Se não houver uma resposta, talvez, esta equipe tenha sucesso na primeira vez, mas certamente terá dificuldades para ser consistente ao longo do tempo.

Segundo o livro, toda equipe passa por diferentes estágios, chamado de “Modelo de cinco estágios”.
O primeiro estágio é a formação da equipe, com toda incerteza de início, com falta de clareza de como os indivíduos interagem, quais as lideranças e quão claro o objetivo está para cada indivíduo. É um período recheado de empolgação, onde os indivíduos estão movidos pelo coletivo e não enxergam as armadilhas ao longo do caminho.
No segundo estágio, vem a fase da tormenta, onde os problemas aparecem de forma clara, normalmente motivados por elementos externos cobrando desempenho e alcance de metas. Nesta fase, é inevitável o aparecimento de conflitos, que se não forem bem gerenciados, podem criar “fissuras” na equipe, que o tempo tratará de aumentar.
Em um terceiro estágio, vemos a fase da normatização, onde os papéis são ajustados. O cuidado muitas vezes não tomado nesta fase, é o de forçar definições sem a devida aceitação da equipe. Por outro lado, se bem sucedido, traz aspectos importantes de coordenação entre os agentes.
No quarto estágio, vemos a fase de desempenho, onde as incertezas são superadas e todos passam a contribuir para o alcance das metas. Superada a fase anterior, se a equipe atingir o grau de coesão necessário, esta equipe passará a criar uma aura de vencedora, criando efeitos motivadores nos indivíduos e resultados superiores. Se o estágio anterior não for bem administrado, forçando-se o alcance dos objetivos sem a necessária integração, fatalmente o tempo apresentará a conta negativa desta inconsistência nos resultados esperados. Como consequência, vem a frustração.
No último estágio, vem a fase de desintegração do grupo, muitas vezes deixando marcas mais profundas nos indivíduos, com suas experiências negativas.

A formação de equipes traz outro ponto importante que é o balanceamento de experiências entre os indivíduos. Como mesclar estas experiências pode ser respondido, basicamente, por um bom processo seletivo? Como integrar o time de forma que as pessoas compreendam os diferentes graus de experiências e aceitem as diferenças é outra pergunta, e bem mais difícil de ser respondida? Normalmente, indivíduos mais experientes adquirem um status diferenciado no grupo. Isto pode acontecer por outros processos de influência, não necessariamente ligados à experiência, mas a experiência, em formação de equipes, é o processo mais usual na criação de um status diferenciado. O balanceamento das experiências, da necessidade dos indivíduos em seus papéis podem criar problemas de convivência e integração entre os agentes, pois, como menciona o livro, indivíduos com maior status tendem a ter mais liberdade com relação às normas estabelecidas para a equipe, o que pode levar ao surgimento de conflitos, sobretudo em equipes heterogêneas. Para evitar um impacto negativo, cabe à liderança o papel de harmonizar os interesses e conflitos, de forma a manter a experiência evitando-se impactos de desempenho no grupo.

Nos dias atuais, a formação de equipes virtuais tem uma grande relevância. Porém, não é simples administrar equipes virtuais, não por serem virtuais, mas pelo aspecto de interação, que fica minimizado, e da interação pessoal, tão necessária, principalmente para nós latinos.

A formação de equipes eficazes deve levar em conta a seleção de recursos adequados, uma boa liderança, o estabelecimento de um clima de confiança entre os membros e um sistema justo de avaliação, desempenho e recompensa.

Se tudo isto fosse fácil, quem sabe teríamos mais casos de experiências positivas com formação de equipes, do que negativas.

Você já se viu em alguma situação onde o texto deste post fizesse sentido pra você?Bom fim de semana.
Moacyr Ferreira


4 comentários:

  1. Moacyr,
    Muito pertinente este seu texto.
    Sem dúvida, seleção, liderança, clima e recompensa são fundamentais na formação de equipes de alto desempenho. Queria, porém agregar a importância da unicidade de objetivos, óbvia a princípio, mas muito difícil de obter na prática em tempos de organizações matriciais. Este talvez seja o maior ponto de conflito para o líder que reúne uma equipe que permeie a organização, pois acaba dedicando boa parte do seu tempo fazendo gestões políticas para acomodar vaidades e idiossincrasias.
    Um abraço,
    Hermano

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  2. Oi, Hermano. Obrigado, outra vez, pelo comentário.
    Excelente ponto acrescentado. Um Grupo consiste de: duas ou mais pessoas que são psicologicamente conscientes umas das outras e que interagem para atingir uma meta comum,e tem metas alinhadas. Equipe é um tipo especial de grupo. Os membros da equipe têm habilidades complementares e estão comprometidos com um propósito comum, um conjunto de metas de desempenho e uma abordagem para a tarefa.
    Exatamente o que você menciona: metas de desempenho comuns, para que todos possam cooperar com suas habilidades complementares.
    Neste sentido, as organizações matriciais são as mais críticas, pois o alinhamento tem que ser muito bom entre as partes, para que não haja perda de foco, ineficiência, e, não raras vezes, conflitos. Claro que cada um tem seu papel a desempenhar, através de seu comprometimento, mas o papel da liderança, ou das lideranças, é fundamental, no estabelecimento da visão, da direção e de como equilibrar as competências versus conflitos, para o alcance das metas. Quanto mais a liderança estiver focada em interesses pessoais (agendas próprias), mais desintegrada estará a equipe e mais parecida com um grupo. Quantos grupos conhecemos que querem parecer-se com equipes e quantas equipes conhecemos que se parecem mais com grupos?
    Abs
    Moacyr

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  3. Oi Moacyr,
    Concordo plenamente que os membros da equipe têm as habilidades complementares e estão comprometidos com um propósito comum, um conjunto de metas de desempenho e uma abordagem para a tarefa, pois sendo assim teríamos uma equipe perfeita para executar o propósito comum, porem sabemos que a seleção dos membros nem sempre atendem 100% as necessidades requisitadas então fica a dúvida...Como realizar um bom induction deste membro? É responsabilidade do lider ser o mentor ou de toda a equipe?

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  4. Oi, Neimar. Muito boa colocação. O processo seletivo ajuda na identificação do recurso mais adequado à função e à cultura da empresa, mas não garante que o indivíduo selecionado terá sucesso nesta organização. Para complementar esta parte, deverá haver a contribuição das três partes:
    - Liderança, no sentido de estabelecer objetivos claros, de utilizar o recurso da maneira mais adequada, incluindo o tratamento do desempenho, através de práticas de feedback;
    - Coleguas, no sentido de promover a aceitação e integração, parte importante para a troca de experiências;
    - Indivíduo, no sentido de mostrar disposição para o aprendizado rápido, de forma a passar o mais rapidamente da fase inicial de aprendizado para a parte produtiva.
    Os conceitos de mentoring e coaching podem ser complementares ao processo do induction, mas são distintos.
    Grosso modo, o coaching tem a ver como ajudar o indivíduo a realizar suas tarefas de uma forma melhor. Isto, normalmente, acontece em estágios mais avançados, quando o indivíduo começa a enfrentar dificuldades de desempenho e necessita a ajuda de uma pessoa para refletir e buscar caminhos para realizar a tarefa. No induction, para mim, é mais aprendizado do que dificuldade de executar uma tarefa.
    O mentoring tem mais a ver como promover o indivíduo na organização, suportando os próximos passos de carreira. Ou seja, acontece quando um plano maior está sendo vislumbrado para o colaborador, o que, em um estágio inicial, é menos provável.
    Abs
    Moacyr

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