Contabilidade Financeira. Nada
poderia ser mais chato! Assim pensei ao ter contato com esta matéria,
recentemente. Porém, com a brilhante condução do professor Sérgio Caldas (PUC
RJ), comecei a entender que o “chato” é não perceber o que os números mostram,
não de maneira explícita.
O balanço patrimonial é muitas
vezes frio e aborrecedor, ainda que mostre uma fotografia de um determinado
momento da situação da empresa. Por ser um relatório, tido como frio, dispõe os
números de uma maneira padronizada e não muito simples de interpretar.
Uma grande discussão que tivemos
em sala de aula, a partir dos ensinamentos do professor Sérgio, está
relacionada com o impacto dos “intangíveis”. Cabe aqui uma primeira reflexão
sobre o termo. Ao contrário do que muitos dizem, intangíveis não são apenas uma
conta do balanço. Na maioria das vezes, os intangíveis manifestam-se nos
números da empresa e não em uma “conta” particular de intangíveis. “Influências
de intangíveis fluem naturalmente e se refletem nos números”. Como diz o
professor Sérgio, “Todo intangível, em algum lugar no tempo, se tangibilizará”.
É o caso do capital humano, por exemplo, que no momento de sua manifestação,
acabará, muito provavelmente, gerando uma despesa ou uma receita, ou os
dois. Enquanto capital humano, ele pode
ser apenas uma possibilidade e não um potencial claro de geração de bens e
direitos (O que aconteceria se este capital humano deixasse a empresa antes de
sua utilização?).
O ponto importante que quero
chegar é na manifestação dos números, principalmente quando se apresentam de
maneira recorrente de forma negativa (ex: prejuízo, ou baixos indicadores de desempenho)
e da interpretação da causa raiz. A leitura de um balanço pode apresentar
causas raízes muitas vezes de difícil identificação e atrelada a fatores
intangíveis.
Pode parecer estranho, mas
organizações também sofrem de doenças psico-somáticas. Justamente a componente
humana desta organização pode estar interferindo na geração dos resultados
financeiros inferiores ao resultado esperado. Do ponto de vista prático, uma
organização onde apresenta um clima de desconfiança ou descrédito geral, vai
motivar a força trabalhadora a empenhar-se por um resultado melhor? Ou o que
pensar de um ambiente sem regras claras, reforçando o mecanismo de competição
entre as pessoas?
Outra referência estranha: O
tecido ético da organização pode estar dilacerado! Em uma situação dessas, o
efeito negativo, do ponto de vista mais prático que possa haver, vai
manifestar-se nos números que a empresa produz.
Portanto, ao olhar um balanço,
tente enxergar o que está por trás dos números, como causa raiz, eventualmente
olhando para o que pode ser classificado como intangível, ao invés de uma
análise mecânica de valores e índices que dificultem a identificação do
problema, enquanto há tempo.
Um grande abraço.
Moacyr Ferreira
Moacyr, interessantíssimo este tema. Parabéns pela escolha e pelo foco que você deu.
ResponderExcluirComo você comentou, o 'chato' em relação à interpretação dos balanços e indicadores financeiros de uma organização é não extrair deles o que eles realmente podem dizer.
Embora mostrem 'fotografias' (portanto aparentemente estáticas) no tempo em termos do estado de saúde finaceira da empresa, estes balanços e os indicadores que podem ser extraídos deles (vários dos quais dinâmicos), podem dar uma visão fantástica e muito completa sobre o desempenho negócio.
Se interpretados por quem realmente conhece do assunto e está informado sobre a operação do negócio, a contabilidade financeira é muito interesante e viva, não chata e fria.
É como um médico que faz a anamnese de um paciente. Se for competente e experiente (e, melhor ainda, se tiver o histórico do mesmo), poderá fazer um diagnóstico muito bom do estado de saúde de seu cliente com base nos dados colhidos. (Por sinal, o sistema sangüíneo foi utilizado como base para modelar a circulação e retenção de recursos na macro-economia)
Ocorre que, em alguns casos, o paciente não quer ouvir o médico - seja por descrença, seja por negação do problema, seja outro motivo. O médico também pode errar no diagnóstico. Nestes casos a ação preventiva ou o tratamento recuperativo não serão realizados ou não surtirão o efeito desejado.
Em uma empresa este tipo de situação ocorre frequentemente, especialmente quando a área financeira é vista de maneira dissociada do resto da organização, como um gerador de relatórios formais cujas conclusões não são absorvidas e devidamente consideradas nos processos decisórios.
Mas você focou nos intangíveis, uma parte relativamente complexa do balanço patrimonial. Como considerar todos os intangíveis? Como tangibilizá-los? Como valorizá-los? Qual o peso de cada ativo intangível para a sobrevivência e sucesso do negócio?
Uma patente (ou uma idéia) pode representar nada hoje, mas milhões amanhã. E a cabeça que gerou esta idéia? O capital humano que você comentou.
Em outras palavras: os intangíveis são importantíssimos. E como cuidar deles para que sua aplicação gere valor e não destrua valor para a organização?
Acredito que há intangíveis mais facilmente quantificáveis em termos financeiros como marcas e patentes.
Ocorre que é difícil traduzir em números financeiros coisas como motivação, ética, confiança, entusiasmo, apoio, cooperação, criatividade, conhecimento, ...
É possível quantificá-los de outras formas/ escalas, mas financeiramente não sei se/ como isto é feito.
Talvez possamos extrair a seguinte conclusão desta discussão - em complemento à sua sugestão final: a eficiência (ou ineficiência) econômico-financeira de uma organização pode ser mostrada em números, mas os fatores que levam a ela podem necessitar de uma investigação conjunta de outras áreas como RH, Marketing, etc. e diferentes níveis organizacionais.
Tal como uma equipe médica: o psiquiatra pode ser tão importante quanto o ortopedista.
Um abraço.
Leandro
Oi, Leandro.
ExcluirObrigado pela participação.
Você capturou bem: todos têm participação e influenciam os números nas empressa.
Existe hoje, grandes discussões e linhas de pesquisa sobre a mensuração dos intangíveis. O detalhe é não subestimar este elemento, que não tem a ver só com patentes, invenções, mas como os elementos componentes da empresa estão reforçando ou enfraquecendo os resultados.
Se uma empresa apresenta condições de mostrar-se saudável, mas os números não correspondem a isto, pode ser o momento de olhar para a organização com um olhar mais crítico, que não necessariametne passa por números, mas como o número está sendo formado, a partir da ação das pessoas, por exemplo.
Abs
Moacyr
Aprendi com este post! Ativos intangíveis vs. desempenho do negócio: uma correlação nem sempre clara, mas fundamental a ser gerenciada.
ResponderExcluirObrigado. Leandro