Vamos deixar claro minha primeira opinião: Formulação
de uma estratégia não se faz com receita!
Primeiro, precisamos conceituar o que é Estratégia.
Neste ponto, vou me valer da definição de Michael Porter, por opção pessoal
(existem outros): “A estratégia é a criação de uma proposição de valor única ao
cliente, envolvendo as diferentes atividades e recursos de uma organização. O
posicionamento estratégico diz respeito à escolha de atividades combinadas de
tal forma que as tornem diferentes e únicas, se comparado com os concorrentes.
Somente olhar para empresas que são “benchmarking” e tentar copiá-las pode
ajudar na eficiência operacional, mas não no posicionamento estratégico.
Eficiência operacional significa fazer atividades semelhantes melhor do que os
competidores. Posicionamento estratégico significa desempenhar atividades de
maneira diferente da concorrência, ou realizar tarefas semelhantes de maneiras
distintas e únicas, gerando valores superiores aos da concorrência. Quanto mais
exclusivo for este posicionamento estratégico, mais sustentável será a vantagem
competitiva criada.
Do ponto de vista prático, como se deve converter a
estratégia em algo concreto? É esta a grande discussão que se arrasta ao longo
do tempo, desde que as primeiras tentativas de formalização de um plano
estratégico iniciaram-se nas décadas de 50 e 60. Parte desta discussão reside
no fato de que estabelecimento e monitoramento de metas (principalmente
financeiras) não são suficientes para capturar elementos importantes dentro da
organização que ajudariam na criação de uma estratégia mais consistente. Nos
anos 90, Kaplan & Norton sugerem uma abordagem mais abrangente, partindo-se
da visão e proposições estratégicas, levando-se em conta indicadores
financeiros, mas equilibrando-se com indicadores externos voltados para
clientes e acionistas, além de medidas internas dos processos críticos de
negócios, inovação, aprendizado e crescimento. Isto porque organizações são
feitas, também, por pessoas e nem tudo que acontece pode ser totalmente
explicado apenas por indicadores financeiros.
Mas como falar de formulação de um plano estratégico em
um ambiente de mudanças? Alguns teóricos defendem a idéia de que a estratégia e
seu planejamento não devem ser uma camisa de força, mas a base para discussão e
incorporação de novos elementos que surgem ao longo do tempo, dando mais
consistência a este planejamento. Tampouco deveria ser algo tão informal, pois
neste caso seria muito difícil o trabalho de comunicação e envolvimento de
outros agentes, fator fundamental para o sucesso da criação da estratégia e,
muitas vezes, subestimado por grande parte das empresas.
No processo de envolvimento dos agentes na formulação
da estratégia, o alto escalão tem papel fundamental de liderança e inspiração.
Porém, é essencial o envolvimento do escalão médio, quer seja no sentido de
implementação, quer seja de comunicação e liderança, além da importância do feedback.
Outro questionamento interessante é com relação ao
horizonte: como planejar a longo prazo, se a pressão exercida por investidores
é muitas vezes de curto prazo? O questionamento é válido e reforça a idéia de
que estratégia consistente não se faz no curto prazo. É um processo de
aprendizagem. Como tal, os agentes devem estar intimamente relacionados para
cooperar com este desenvolvimento. Quanto mais inconsistente forem as
proposições estratégicas e quanto mais os resultados medidos não corresponderem
à estratégia proposta, qualquer que seja ela, maior será a pressão exercida
pelos agentes, inclusive investidores, pois cada um terá seus interesses a
serem defendidos, o que levará à geração de conflitos, levando-se a decisões
nem sempre favoráveis aos negócios. Em organizações complexas, às vezes,
tomam-se as decisões possíveis, dentro do quadro político, e nem sempre as
melhores para a organização. A organização não pode ser vista puramente como
uma máquina. O papel dos indivíduos interfere diretamente na estrutura
sócio-cultural da empresa, o que pode tornar o papel de alinhamento ainda mais
complicado.
Apesar de todas as dificuldades relacionadas com o
desenvolvimento de um plano estratégico que incorpore decisões que levem a
empresa à tão sonhada vantagem competitiva, eu fico, outra vez, com Porter,
quando ele diz que o pior que pode haver é a empresa não ter nenhuma
estratégia.
Minha opinião: O processo de formação de estratégia
deve obedecer sim um certo grau de formalização, desde que fundamentado a
partir de uma discussão ampla e consistente entre os diferentes agentes. A
formalização servirá como uma fonte de consulta com relação ao acordo inicial,
mas a estratégia e sua implementação deve estar na cabeça das pessoas, para que
todos possam cooperar. Acho que o BSC é uma ferramenta importante e poderia ser
utilizada, desde que os agentes estejam compromissados com os fatores
inter-relacionados do BSC, e não apenas para cumprir uma formalidade de um
plano no papel. Também defendo que o fator de sucesso de um bom plano
estratégico está na participação do escalão médio, quer seja no aspecto de
liderança, quer seja no aspecto de comunicação. Se esta participação for
autêntica, haverá uma retro-alimentação que dará vida e consistência ao planejamento
e futuras decisões que afetem o posicionamento estratégico da empresa. Formular
um posicionamento estratégico não é apenas elaborar um documento! É o
alinhamento da organização e o reforço de um propósito maior entre os agentes
que façam com que a empresa consiga criar vantagem competitiva através da
combinação de processos e recursos gerando valores superiores aos da
concorrência, difíceis de serem imitados, por serem únicos e consistentes ao
longo do tempo.
Um grande abraço.
Moacyr Ferreira
Passei por aqui e deixo meus cumprimentos.Parabéns,dividir conhecimento é uma ato de generosidade.
ResponderExcluirObrigado, Claisson. A idéia é compartilhar alguns aprendizados adquiridos ao longo do curso e aprender com a contribuição de outras pessoas, de forma que todos compartilhemos ao final.
Excluirabs
Moacyr