O que motiva o consumidor no momento da decisão de compra? O emocional ou o racional? Na verdade, os dois, além do comportamento deste consumidor e do ambiente no momento da compra. O bom profissional de marketing sabe disto e sabe que estes fatores podem modificar-se ao longo do tempo. Entender as características e fatores que influenciam as decisões de compra dos consumidores é essencial para o estabelecimento de estratégias de marketing efetivas. Mas o que devemos considerar para compreender estas características e fatores? É o que vou abordar neste e nos próximos posts.
Muitas empresas ainda atuam como nos tempos de H. Ford, preocupadas em “empurrar” produtos ao mercado do que em tentar entender, de fato, o que o mercado necessita e deseja? Empresas de tecnologia, soberanas e centradas em seus conhecimentos ditam aos clientes o que é bom e o que não é tão bom, do ponto de vista de desempenho: Mas, quem disse que o consumidor realmente valoriza este desempenho apresentado? Agencias de propaganda montam suas peças em cima de ideais mirabolantes e conceituais, mas nem sempre a mensagem é aquela que atinge o objetivo de comunicar-se efetivamente com seu público alvo.
O conceito de marketing, fala sobre uma organização voltada para o atendimento da satisfação das necessidades e desejos dos consumidores. Um problema, em muitas organizações, é a falta de um elemento integrador entre os vários departamentos para coordenar o entendimento sobre as necessidades e desejos do consumidor para um atendimento efetivo, alinhado com a estratégia proposta. Não raro, vermos muitos departamentos interessados e focados no atendimento ao cliente, mas cada um à sua maneira, de forma descoordenada, criando um efeito negativo no consumidor final. Pense no vendedor que te deu toda a atenção no momento da venda e no serviço deficiente e desinteressado no pós venda. Este é um exemplo simples que ilustra a importância sobre a coordenação da estratégia para uma implantação efetiva da mesma.
Para uma implantação de estratégia efetiva, é preciso conhecer o consumidor, e suas características importantes a serem consideradas: i) Seu comportamento dinâmico; ii) Comportamento determinado por interações, ou seja, dependente de como se comporta este consumidor com respeito a seus sentimentos, ações e o ambiente em que está inserido; iii) Comportamento do consumidor determinado por trocas e, portanto, é importante identificar o que motiva este consumidor a adquirir algo em troca de outro item de valor.
Para entender o consumidor, uma etapa importante é compreender a estrutura de conhecimento deste consumidor e saber como influenciar na decisão de compra. Este entendimento não é uma tarefa óbvia, pois o próprio consumidor, muitas vezes, não tem consciência sobre os fatores que interferem em seu comportamento, tais como os aspectos afetivos (sentimentos) e cognitivos (pensamentos ou crenças).
Dentre as principais características do sistema afetivo estão os fatos de que: i) as reações afetivas são produzidas pelo sistema afetivo; ii) as pessoas têm pouco controle direto de suas reações; iii) as reações são sentidas fisicamente; iv) o sistema afetivo pode reagir a praticamente qualquer estímulo; v) as reações afetivas são aprendidas. Um dos aspectos importantes, vendo as características anteriores, é que este sistema pode ser influenciado e, portanto, pode mudar o comportamento do indivíduo. É neste ponto que as ações de marketing devem se concentrar, para influenciar positivamente as decisões de compra.
O sistema cognitivo, por sua vez tem a função de interpretar e processar informações que se relacionem com suas experiências passadas (boas ou ruins).
O processo de decisão de compra leva em conta as etapas de interpretação das informações para criação de significados ou conhecimentos, da associação destes conhecimentos para um processo de avaliação dos produtos e o resgate na memória destes conhecimentos, como suporte às etapas de interpretação e integração dos conhecimentos. Se a experiência armazenada na memória for negativa (positiva), o processo de decisão de compra será influenciado negativamente (positivamente).
Uma campanha publicitária antiga da Brahma explorava a relação positiva entre o consumidor, a cerveja e o futebol, trazendo lembranças positivas entre os três elementos, com um clima engraçado e alto astral. Um desafio, se levarmos em conta que a propaganda incentiva o consumo de álcool. Ou seja, associações positivas, aproximando os consumidores com lembranças positivas, para criação de experiências positivas, tais como alegria, diversão e socialização.
Temos uma interdependência entre aspectos cognitivos e afetivos, influenciando a formação do conhecimento, que influenciará a decisão de compra. Não por acaso, muitas empresas focam suas peças publicitárias na criação de aspectos afetivos positivos, para influenciar na formação das crenças das pessoas. Este é o caso dos produtos relacionados com a marca “Fanta”. No comercial, o que se evidencia não é o aspecto objetivo sobre o produto, mas um aspecto afetivo ressaltando o papel da diversão na criação de um mundo melhor e mostrando, claro, que o produto ajuda nesta construção de um mundo melhor. A experiência positiva com a marca (por exemplo, através dos shows patrocinados pela marca) reforçará ainda mais a formação de um conhecimento e uma crença positiva sobre a marca.
Tão importante quanto a construção dos conhecimentos, na mente do consumidor, é como eles estão estruturados, nos diversos níveis (Classe, Produto, Marca, Modelo). Porém, explorar este entendimento é uma das tarefas mais complicadas, não somente porque as pessoas são diferentes, mas, também, porque as pessoas podem formar conhecimentos diferentes em momentos diferentes.
Em um processo de decisão de compra, os consumidores analisam o produto segundo: i) seus atributos; ii) benefícios e iii) valores.
Quando analisando sobre a perspectiva dos benefícios, os consumidores podem analisar as consequências psicossociais e, neste ponto, entram as crenças, conhecimentos anteriores, baseados em uma componente afetiva, combinada com uma componente cognitiva, principalmente quando há risco envolvido. Interessante, neste ponto, analisar a campanha publicitária do Bradesco Seguros, para venda de um artigo extremamente subjetivo como é o serviço de seguro, utilizado, apenas quando da ocorrência de um sinistro. Utiliza-se de uma componente afetiva, relacionada com o aspecto negativo de uma ocorrência indesejada. A cena mostra uma possibilidade de algo ruim aconteça, o que é contrariado ao final da peça, mostrando que os eventos podem ou não ocorrer, mas ao invés de ficar com a dúvida, melhor obter o seguro, para afastar o risco percebido. O consumidor pensa no benefício funcional do serviço de seguro, mas pensa em seus valores de proteção da família. É justamente na componente de valores que reside um importante aspecto. Os valores representam as metas gerais de vida das pessoas. Os valores envolvem uma forte componente emocional, capaz de alterar o comportamento do consumidor em função de seus conhecimentos criados anteriormente, armazenados na memória.
O modelo meios-fim sugere que os consumidores veem a maioria dos atributos como um meio para um determinado fim. Um determinado atributo leva à associação e identificação de consequências funcionais, que, por sua vez, levam a consequências psicossociais e, finalmente a valores. Recentemente, a oral B, identificou um aspecto social importante na aceitação das pessoas, relacionada com o hálito. Um tema de difícil abordagem, pois toca aspectos afetivos. De uma maneira engraçada, a campanha explora os atributos sobre a limpeza, sem a utilização de jargões técnicos, para mostrar os benefícios funcionais da higiene bucal, levando a uma sensação de limpeza e, consequentemente, de aceitação. De uma maneira brilhante, o comercial explora aspectos afetivos e cognitivos para fazer com que o consumidor construa um novo conhecimento sobre o produto e seus benefícios funcionais e sobre valores aceitos pela sociedade. O benefício desta abordagem cadeia meios-fim é o de entender um conhecimento superficial do consumidor sobre os atributos e as consequências funcionais dos produtos, em busca de significados e crenças mais arraigadas quanto às consequências psicossociais e à satisfação dos valores.
Trabalhar no envolvimento do consumidor com o produto é importante para influenciar seu comportamento. O entendimento correto das estruturas de conhecimento e envolvimento podem suportar estratégias de marketing mais consistentes e trazer os resultados esperados para a empresa.
Nos próximos posts, vou explorar outros temas que afetam o comportamento do consumidor e sua decisão de compra.
Boa semana.
Moacyr Ferreira
Bacana este tema, Moacyr. E muito complexo também, pois envolve variáveis completamente subjetivas como você relacionou (sentimentos, crenças, percepções, ...).
ResponderExcluirHá muito o que falar sobre decisão de compra - aspectos ligados à cada sociedade, geração, país, religião, nível de desenvolvimento humano, economia, etc.
Mas um aspecto que acho intrigante é a capacidade e o poder que uma estratégia de marketing bem sucedida tem de, inclusive, fazer pessoas comprarem coisas que além de desnecessárias, podem fazer mal a elas, seja no aspecto da saúde, seja no aspecto financeiro, seja no ambiental, etc.
É o caso do office boy que recebe setecentos reais por mês e compra um tênis de marca que custa quatrocentos. Ou o cara cuja casa que nem terminou de pagar está caindo aos pedaços, mas o carro zero km de setenta mil reais está reluzindo na garagem. E assim por diante.
Sem querer ser excessivamente crítico, mas já sendo, acho que as pessoas são extremamente frágeis em relação à este mundo de faz de conta que em geral o marketing lhes apresenta.
(esclarecimento: não sou anti-capitalista, nem filiado ao Greenpeace ou coisa parecida, ok?)
As pessoas não tem anticorpos para serem mais racionais em suas decisões de compra e acabam fazendo bobagens e se metendo em situações desvantajosas o tempo todo.
Da mesma forma que se ensina nas universidades e pós-graduações tudo o que você falou sobre a ciência do consumidor, acho que deveríamos ter nas escolas de ensino fundamental uma disciplina que ensinasse as crianças a ser mais racionais e pensar melhor antes de tomar a tal 'decisão de compra', sendo mais críticas em relação ao que lhes é apresentado no dia-a-dia de futuros consumidores.
Ou seja, ajudá-las a criar anticorpos para não serem presas (tão) fáceis do marketing na vida adulta.
Porque sinceramente, o que vejo de pessoas por aí se endividando sem necessidade, comprando futilidades que não condizem com sua situação, poluindo seu corpo com silicone, etc, etc, etc não é pouca coisa.
E isso tudo gera frustração lá na frente. E o mesmo marketing que ajudou a entuchá-las de coisas vai ajudar a cuidar da encrenca delas depois??
Brincando a sério: acho que deveríamos sugerir a criação de uma matéria para o ensino fundamental chamada "Consumidor do Século XXI: Sustentabilidade e Inteligência".
Ela utilizaria os mesmos conceitos mencionados neste post, mas aplicados de forma contrária, para preparar as pessoas.
Na linguagem dos nossos teens, pré-teens e crianças, ser 'descolado' deveria ser saber pensar!
Abs, Leandro
Obrigado, Leandro.
ResponderExcluirApenas para você refletir. Muitas vezes, as pessoas compram mais pelo medo de não agradar os outros do que pelo desejo ou necessidade. Isto é uma das componentes que levam à decisão. Classes menos favorecidas compram como forma de diminuir, ainda que de maneira artificial, a distância e a discriminação. Quando alguém compra um tenis, como no exemplo citado, mesmo comprometendo sua renda, ela está dizendo, indiretamente, que "ela pertence" ao grupo das pessoas que usam tenis bacana.
O marketing também tem sua discussão ética e deve ser levada em consideração nas influencias sobre o consumidor. Mas, por outro lado, o consumidor e sua complexidade inerente, também leva a comportamentos de compra que são de difícil entendimento, tais como este aspecto da sociedade interferindo na formação de seu conhecimento e crença sobre um produto, aproximando-o do objeto de desejo. Portanto, como dito no texto, a decisão de compra não se dá apenas pelo atributo do produto e pelos benefícios sociais, que estariam mais próximos de uma abordagem congnitiva. Entram, também, aspectos emocionais, relacionados com o efeito psicosocial e seus valores, tais como, por exemplo, o de não deixar que ninguém o humilhe, ainda que para isto ele consuma mais do que pode ou tem.
Abs
Moacyr
Moacyr, o Marketing (falando aqui apenas da parte dedicada ao consumo) é uma ferramenta de progresso, ajuda agregar valor às sociedades por meio da ligação entre empresas e consumidores. Além de ser uma ciência fascinante.
ResponderExcluirO problema que vejo, especialmente na nossa sociedade brasileira, é que ainda não temos o discernimento necessário e a maturidade para sabermos priorizar, escolher melhor e limitar nossas decisões de compra.
Em outras palavras, em uma sociedade com um nível sócioeconômico relativamente baixo (e com os traços culturais e sendo uma nação ainda jovem devido a sua formação histórica), acho que há um mundo real dissociado do mundo desejado no qual as pessoas muitas se imaginam.
Entendo e concordo com seus argumentos, mas ainda acho que é preciso que as pessoas saibam parar, pensar mais racionalmente e realmente decidir soberanamente sobre seu consumo. E não vejo muito isto no dia-a-dia.
Acredito que isto só será possível com uma população com um nível de educação bem mais elevado, mais consciente, mais politizada.
Aí você vai me perguntar: e o fenômeno da bolha imobiliária nos EUA que arrastou o mundo para a crise em curso. Não foi um exemplo de irracionalidade de uma sociedade bem mais educada do que a nossa?
Sim, foi, e o componente emocial que levou a esta situação é inerente ao ser humano, como você explicou no post. Mas este caso da bolha teve um componete muito forte de falhas de regulação gevernamental que permitiram este fenômeno se acentuar muito.
Estou defendendo a regulação da mídia? Deus nos livre disto, mas acho que só com um nível cultural e de consciência coletiva bem mais forte é que as sociedades poderão consumir adequadamente, sem deixar seus sonhos e desejos, mas também se destruir ou limitar seu futuro por decisões erradas.
Abraço, Leandro
Oi, Leandro.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
Esta é a parte cognitiva a qual você se refere, que poderia melhorar com um maior e melhor conhecimento sobre os produtos.
No entanto, a parte emocional exerce uma grande influência na montagem do conhecimento que usado durante o processo de decisão de compra.
Isto é válido tanto para classes mais altas como para classes mais baixas.
Para a classe mais alta, o motivador pode ser a exclusividade, o desejo de se destacar.
Para a classe mais baixa, pode ser o desejo de pertencer ou o medo de ser marginalizado.
O nível de consciência não será, necessariamente, o fator limitante do consumo ou de um consumo consciente.
Quando exposto a estímulos que tenham uma forte identificação com o consumidor, a chance da compra se concretizar é alta.
Talvez, no meu ponto de ver, o nível educacional ajude na filtragem de empresas exploradoras e que fornecem produtos de baixa qualidade por preços elevados.
No entanto, ela não vai evitar uma decisão de compra apenas pelo lado cognitivo. Um exemplo disto é o consumo de computadores com configurações avançadas e complexas ou, até mesmo de celulares.
Dúvido que o usuário use toda a potencialidade das máquinas.
Mas, o fato de aparecer a "maçã" no logo to produto, já dá ao consumidor uma dimensão que, muitas vezes, vai além da avaliação do atributo do produto e começa a tocar outros aspectos mais subjetivos.
Este é o desafio e o lado bacana do Marketing. Saber interpretar o consumidor e saber concretizar a relação de troca.
Abs
Moacyr
o que leva as pessoas comprarem por impulso?
ResponderExcluirO que leva o consumidor a comprar por impulso?
ResponderExcluirUma excelente pergunta, que necessitaria uma abordagem de áreas como a psicologia.
O que posso dizer, da perspectiva de marketing, é que existem dois movimentos para isto: Um interno e outro externo.
Ambos influenciando não somente na intenção de compra, mas, principalmente, no comportamento de compra (a compra, de fato).
Exitem pessoas com uma inclinação para o consumo impulsivo, provalvemente como mecanismo de compensação. Isto, explicaria o movimento interno. Quando submetidas a uma carga cognitiva (muita informação para processar), o cérebro encontra sua limitação e é como se transferisse a responsabilidade para o lado afetivo, na decisão de compra. Com a propensão para o consumo, este processo de compra se acelera.
O processo externo tem um princípio similar, através da saturação do cognitivo para exploração do lado afetivo. Esta ação externa, na maioria dos casos, se dá com uma ação que chama a atenção do consumidor, através de maneiras alternativas, para diferenciar das corriqueiras. Uma vez bem sucedida a chamada de atenção do consumidor, o passo seguinte é atrair o consumidor com informações que o levem a aderir a sugestão de consumo do produto. Com algumas informações e com a tendência de consumo por impulso, está dado a faísca para a efetivação do consumo.
Exemplos, embora banais: Homens, em geral, têm atração por dsipositivos tecnológicos. Você cria uma campanha de lançamento de um iPhone e informa que a oferta será limitada. Adicionalmente, informa que você pode ficar de fora de um lançamento onde poucos terão o privilégio de consumir o produto mais avançado do momento. Isto explica porque houve filas e filas, com pessoas esperando por dezenas de horas pela abertura de lojas para comprar um produto que não é barato e que, não necessariamente, o consumidor, de fato, necessitaria.
Isto acontece, generalizando um pouco, com mulheres consumindo bolsas e sapatos. Em alguns casos, a única coisa que você precisa é atrair a consumidora. O lado impulsivo e afetivo, trata de fazer o resto.
Não vou, aqui, estender-me nas explicações psicológicas, por falta de conhecimento, mas adianto que exitem vários estudos sobre esta influência do afetivo, ainda mais no caso de consumidores com propensão ao impulso de compra.
como você definiria compra racional?
ResponderExcluirA compra racional é uma compra onde indivíduo utiliza o raciocínio cognitivo. Normalmente está relacionada a compras de alto envolvimento. Um bom exemplo disto é a compra de um carro. O indivíduo vai pesquisar a marca, o modelo, compara características técnicas, preço, estabelece critérios. Um exemplo extremo seria o de uma compra espontânea, tal como a compra de um chocolate na fila do supermercado, no caminho para o caixa.
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