sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Globalização e seu impacto sobre a Estratégia.

Nos próximos posts vou apresentar alguns aspectos importantes para construir a ideia central sobre alianças estratégicas e sua importância no mundo atual. Para isto, serão necessários alguns passos para entender o impacto da globalização, as possibilidades dentro do processo de internacionalização, a criação de valor e benefícios das alianças estratégicas e os e, por fim, os cuidados na criação e gerenciamento de alianças estratégicas.
A estratégia sempre foi objeto de investigação desde a antiguidade, registrado em obras com apelo bélico, como em “A Estratégia Militar de SunTzu”  (Século IV a.C.). Porém, a partir dos anos 80, o tema de estratégia ganhou um dinamismo novo, basicamente influenciado pela aceleração da “Globalização”. 
Não podemos dizer que o tema de globalização surgiu na década de 80. O tema não é novo e o conceito existe desde muitos anos (Clark, T; Knwoles, L – 2003), embora alguns eventos recentes, tais como a introdução da internet, da web, a comunicação móvel, o surgimento de novas potências econômicas, como a China e o ingresso de países tidos como emergentes tenham trazido um impacto significativo sobre a globalização e seus efeitos no mundo atual. Não teria sido o império de Alexandre, o Grande, uma forma de globalização?  
Empresas que antes pertenciam a uma determinada indústria focada em um mercado específico, passam a ver o processo de globalização integrando mercados antes separados ou distantes. No pós- guerra, o que vimos foi uma expansão de investimentos fora do país de origem como forma de diversificação de risco e aumento produtivo com custos menores, porém, para atendimento do mercado local. Este foi o caso dos investimentos de empresas americanas, alemãs, francesas no Brasil, por exemplo. Com o avanço da globalização, ampliam-se as possibilidades de negócios e a atenção de empresas antes não concorrentes, passando a brigar em um mesmo espaço, agora internacional.
Porém, a internacionalização traz novos desafios. A globalização força o questionamento, por parte das empresas, sobre a adequação de sua estratégia com o ambiente macro, desafiando esta empresa a buscar sua vantagem competitiva através do desenvolvimento de competências internas, que se não forem existentes, necessitam um desenvolvimento ou complementaridade, quer seja em seu mercado local, quer seja através de um processo de parcerias internacionais. Por exemplo, para o alcance e penetração no mercado chinês, as empresas tiveram que rever suas decisões de investimento no território chinês, apesar de toda a dificuldade de negociação com o governo chinês. Não se tratava do tema de não se ter uma competência interna, mas de buscar uma parceria no novo território, através do desenvolvimento de uma competência essencial, relacionada com fabricação, em função do novo desafio estratégico. Igual fato ocorreu com a Nokia e a decisão de produção de telefones celulares em Manaus. A competência existia, mas a produção distante de mercados já não era tão efetiva do ponto de vista estratégico.
Empresas que dependem das respostas dos mercados locais, ou seja, que não conseguem empurrar seu produto totalmente padronizado, necessitam fazer as adaptações em sua estratégia para poder adequar-se às condições locais. Ações de vendas e marketing são exemplos da necessidade de desenvolvimento de competências nos mercados locais, quer seja com recursos internos, quer seja através do processo de parcerias. Esta necessidade de resposta às condições dos mercados globais cria uma distinção entre empresas Transnacionais (capazes de dar esta resposta às necessidades locais) e empresas Globais (Interação com mercados globais, a partir das diretrizes e produtos globais).
Na esteira do desenvolvimento econômico, o conhecimento também sofre uma grande transformação, estando cada vez mais disponível em escala global, em uma economia mais econômica e culturalmente interdependente, servindo como base para a criação de uma vantagem competitiva, nestes novos tempos. Já não é mais a matéria-prima, na forma de commodities, que permitirá a criação de algo distintivo, que faça com que a empresa se destaque frente a seus competidores: É o conhecimento, tácito ou não, e a capacidade de aprender a aprender.
Em tempos de globalização, empresas buscam cada vez mais alavancar suas competências internas existentes e tendem a perseguir vantagens de escala através de recursos disponíveis no âmbito global, quer sejam por meio de recursos financeiros globais, melhoria da comunicação através de novas tecnologias, ou até mesmo da presença de empresas com suas subsidiárias em locais fora de seu mercado de origem.
A Globalização permitiu o surgimento de novos mercados potenciais, assim como encorajou o surgimento de novos competidores. O aumento da competitividade, a emergência de novos mercados na economia mundial e a habilidade das firmas de recompor e aperfeiçoar seus processos produtivos trouxe uma nova leitura para a natureza da identificação de vantagens e desvantagens. Como resultado, as empresas foram obrigadas a rever a adequação de suas estratégias, com um olhar mais integrativo entre suas competências internas e condições externas, nos diferentes níveis, nacionais, regionais ou internacionais e de forma dinâmica, para não perder a orientação necessária de reação.
A decisão estratégica não é um processo óbvio e traz muitas incertezas sobre a melhor forma de alcance do mercado, respeitando-se o interesse dos vários componentes do negócio. Não é apenas uma questão operativa, mas uma questão que envolve a efetividade estratégica.
Contudo, fica claro que a globalização provocou a necessidade de cooperação entre as empresas, não somente para a criação de vantagens, mas muitas vezes, por uma questão de sobrevivência em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo que requer agilidade e flexibilidade. Cada vez mais as parcerias não são mais entre duas empresas, mas sim através de uma rede de parceiros estratégicos.
No próximo post, vamos ver como a globalização abriu novas possibilidades e desafios para o processo de internacionalização de empresas, na tentativa de captura de novos mercados.
Bom fim de semana.
Moacyr Ferreira

2 comentários:

  1. Oi Moacyr,

    Muito complicado esse negócio de estratégia em um mundo globalizado, hein? :)

    Se montar uma estratégia para um mercado local ou regional já não é algo óbvio, considerando componentes de mercado, econômicas, demográficas, logística, governo, cultura, ...., imagine para uma visão integrativa global e que ainda precisa ser ágil e adaptativa. Acho melhor abrir uma padaria! (sem demérito às padarias, que hoje já têm que ficar de olho aberto)

    Você é um Diretor encarregado de rever a estratégia de uma multinacional. Atualmente, ela opera internacionalmente, mas com características locais/regionais, onde suas filiais têm considerável nível de autonomia para adaptar seus processos, ferramentas, políticas,...

    Esta situação tem vantagens e desvantagens. Entre as primeiras estão a rapidez de adaptação, flexibilidade, agilidade. Entre as últimas estão a falta de padronização, multiplicidade de processos e ferramentas reduntantes e maiores riscos de desalinhamento.

    Pergunta: como você, Diretor de Internacionalização, balancearia os níveis de centralização/ padronização/ homogenização e flexibilidade/ regionalização/ customização??

    Abraço, Leandro

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  2. Oi, Leando.
    Obrigado pelos comentários.
    Até as padarias têm seus desafios. Veja a tendência das novas padarias que funcionam como restaurante, empório, etc.
    Não posso responder sua pergunta com a cabeça de um diretor, pois não sou um, ainda.
    O que posso comentar é sobre a importância de uma criação de uma visão orientada para o futuro e uma liderança forte para a implementação desta visão, na forma estratégica.
    Se a estratégia é consistente, se ela é monitorada e ajustada na medida em que se faz necessária, se ela conta com uma linha de comando integrada, alinhada, este processo fica facilitado.
    Prahalad, um consultor famoso, argumenta que os processos de negócio são a cola entre o sistema social e sistemas de IT de uma empresa para permitir o processo de inovação, que é o elemento principal na economia dos novos tempos. Estes processos de negócio precisam ser transparentes, flexíveis e agéis, para dar a resposta esperada.
    A dificuldade, hoje em dia, é alinhar os vários elementos (internos e externos) com esta estratégia.
    Isso deve ser um desafio principal de uma liderança forte, caso contrário, os processos de negócio serão vistos mais como burocracia do que como ponte para construção de uma estratégia eficaz.
    Se a cultura da empresa não for moldada para este tipo de estratégia, que se exige atualmente, a tendência é esta empresa sofrer com a competição de mercado e poderá não ser capaz de atrair os recursos necessários para a construção e implementação desta estratégia.
    Abs
    Moacyr

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