- Sua empresa adota a abordagem de precificação baseada em custo ou
baseada em valor?
- Qual a implicação para os resultados da empresa?
Precificação é um tema extremamente relevante que muitas vezes é
assumida como uma prática planejada dentro das empresas, focada nos resultados
esperados, embora o conceito não seja totalmente compreendido no sentido de
questionar qual o resultado que está sendo de fato alcançado.
A abordagem baseada em custo foca, principalmente, na cobertura dos
custos, através do acréscimo de uma margem esperada para a formação do preço
final que será percebido pelo cliente. Ao contrário, a abordagem
baseada em valor parte da perspectiva do quanto o cliente perceberá
positivamente o preço-alvo capaz de levar a uma condição
diferenciada de lucratividade e, obviamente, cobrindo os custos.
A grande discussão com relação a estas abordagens é se o problema está
na formação do preço ou na exploração de oportunidades de mercado através de
seus clientes. A empresa está apenas focada em metas de curto prazo para
alcance de vendas ou existe uma preocupação no longo prazo na relação com este
cliente e o quanto ele poderá colaborar na lucratividade esperada? Empresas
bem-sucedidas no mercado têm apresentado uma característica em comum: A meta tem sido desenvolver produtos que possam ser vendidos
com lucro a um preço-alvo, esperado em função de seu plano de marketing.
O problema relacionado com a abordagem baseada em custo é que este é
função do volume vendido. Ou seja, para diferentes volumes, poderíamos ter
diferentes condições de custo, principalmente devido ao efeito do custo
variável na composição do custo total associado ao produto. Outro aspecto
importante está relacionado ao custo aplicado a diferentes mercados, pois
alguns poderiam aceitar a formação de preço com base neste custo, enquanto
outros, mais sensíveis a preços, tenderiam a rejeitá-los.
A precificação baseada em valor, na verdade, começa antes mesmo de os
investimentos serem feitos. Começa com a perspectiva do consumidor. É uma abordagem que busca incorrer em custos para
criar produtos que possam gerar lucratividade, tendo em vista o valor para o
cliente e pode ser uma grande ferramenta no crescimento com lucratividade. A
grande dificuldade, porém, é que esta abordagem exige um bom alinhamento e
coordenação de decisões inter-relacionadas com a estratégia de marketing.
Muitos justificam a alta competitividade como justificativa de defesa de
posição, através de redução de preços, para alcance de metas. Porém, os preços
deveriam ser reduzidos somente quando não se justificam mais em função do valor
percebido pelo cliente, através de soluções comparativas com a dos
concorrentes, e não em função da concorrência e participação de mercado. O uso inadequado de precificação para alcance de metas sem a
preocupação com a lucratividade mina o valor percebido pelo cliente e reduz
ainda mais os lucros.
Ao longo do ciclo de vida do produto, diferentes preços poderiam estar
associados aos produtos, pois a percepção de valor do cliente modifica-se ao
longo deste ciclo. Assim, por exemplo, preços poderiam ser reduzidos, estrategicamente,
desde que fossem usados para geração de mais lucratividade. A precificação
estratégica procura determinar o preço mais lucrativo por meio de captura de
mais valor, e não, necessariamente, do aumento de vendas.
O grande problema, na
verdade, está na questão de como os agentes internos estão alinhados com a
criação, comunicação e entrega de valor. Se a área de vendas preocupa-se, quase
que exclusivamente, com o alcance das metas, sob a justificativa de defesa de
base instalada, aumento de market share e
share of wallet. Se a complexidade na complexidade da organização não
estabelece uma clara função de marketing estratégico e esta fica diluída nas
várias áreas da organização, esta alavancagem de valor estará comprometida.
Como disse Michael Porter
(1996), eficiência operacional não é estratégia. Uma proposição de valor
diferenciada deve ser acompanhada de uma boa cadeia de valor e de escolhas que
permitam, de maneira única, criar um elemento de diferenciação capaz de
permitir o aparecimento de uma vantagem competitiva sustentável. A ineficiência
operacional, aumentada pelo desalinhamento entre as áreas em torno de um
objetivo único e bem estabelecido, levará a custos mais altos, impactando ainda
mais a estratégia, reforçando a prática de redução de preços para o mecanismo
de aumento de participação ao invés de aumento de lucratividade. Em uma empresa
que depende da percepção positiva de seus investidores, o resultado de
lucratividade baixo pressiona ainda mais para a redução de preços, aumento de
ineficiência operacional, reduzindo a margem operacional, levando a mais
pressão e necessidade de prática de preços menores para enfrentar uma
concorrência dura. Temos aí, uma espiral negativa.
É preciso trabalhar a criação de valor através das necessidades e
interesses dos clientes. É preciso sair na frente na criação deste valor e na
comunicação do mesmo. Finalmente, é preciso ter muito claro o público-alvo a
ser atingido, pois nem todos os clientes estarão alinhados com esta proposição
estratégica. Porém, não basta compreender as necessidades
dos clientes, mas como e quando satisfazer
essas necessidades de forma lucrativa.
O verdadeiro teste de uma estratégia de sucesso é sua habilidade de
criar valor com lucratividade.
Voltando ao questionamento origina: que abordagem sua empresa utiliza?
Um grande abraço.
Moacyr Ferreira
Moacyr,
ResponderExcluirO debate por você levantado é muito relevante em um mundo cada vez mais globalmente competitivo. É também fundamental que empresas e governos compreendam que a interconexão do sistema é cada vez mais importante, pois do modelo de precificação se deriva a demanda por capital de giro, que deve considerar custos diretos e indiretos, muitos deles gerados exógenamente ao ambiente da empresa. Por isso, questões como "custo Brasil" não são "choro" de empresário, mas tema central e estratégico para o estabelecimento das políticas comerciais das empresas. Um abraço!
Oi, Hermano. Obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirGostaria apenas de reforçar dois pontos na questão:
1) "A precificação baseada em valor, na verdade, começa antes mesmo de os investimentos serem feitos. Começa com a perspectiva do consumidor"
2) "Porém, não basta compreender as necessidades dos clientes, mas como e quando satisfazer essas necessidades de forma lucrativa".
Ou seja, sem uma boa estratégia, um alinhamento dos agentes e uma boa definição de quem é o público alvo que permite gerar crescimento com lucratividade, as definições de precificação ficam "capengas", levando a resultados, de longo prazo, nem sempres esperados.
Abs
Moacyr