Quando ouço pessoas com esta abordagem simplista, confesso que tenho um sentimento de incômodo com a arrogância mascarada nesta boa intenção: Um planeta que já passou por era glacial, que naturalmente tem seus processos de acomodação de placas tectônicas, e que se manifesta através de vulcões e erupções e, ainda sim, se recria a todo tempo precisa do ser humano para salvá-lo? Quem “está perdido” se o “caldo desandar” é o indivíduo e não a natureza, porque esta imporá sua vontade e se manifestará da forma que tiver de ser, independente do ser humano. Portanto, o discurso deveria ser “vamos salvar a humanidade através de práticas que garantam a sustentabilidade de sua existência!”
Mas aí, confesso que vem outro incômodo com a questão que, na grande maioria dos casos, endereça a questão para o “pensar verde”. Nada contra isto, também, mas seria apenas este aspecto que deveríamos pensar, quando tratamos de sustentabilidade? Certamente, não, e muitos têm feito isto.
Sustentabilidade, colocada de uma maneira simples, trata da relação equilibrada dos interesses dos diferentes agentes envolvidos em um determinado negócio. O conceito de sustentabilidade deve respeitar as dimensões ambientais, sociais e econômicas. Além disto, o conceito de sustentabilidade traz implícita a ideia temporal, ideia de equilíbrio entre as partes, gerenciamento de interesses e conflitos, além de aspectos motivadores. Sustentabilidade não é só falar de direitos, mas também de deveres entre os agentes.
Um ponto interessante sobre sustentabilidade aparece na intersecção com o tema de responsabilidade social corporativa. Um autor chamado Robert B. Reich, em seu texto “The new meaning of Corporate Social Responsibility” trata a questão não do ponto de vista do questionamento se as empresas deveriam ser socialmente responsáveis, mas, sim, como elas devem ser. Ele fala de uma participação capaz de alinhar interesses dos vários agentes, tais como trabalhadores, comunidade e investidores. Alguns defendem que o que é bom no longo prazo para os investidores, será bom no longo prazo para os “stakeholders”. Outro autor, chamado Morrissons, tem uma visão uma visão um pouco mais contundente relacionada com um comportamento ético da empresa para com a sociedade, incluindo não somente investidores, mas outros grupos de interesse com o negócio da empresa. Para Mackey uma dose de filantropia corporativa não é simplesmente um bom negócio, mas uma excelente estratégia de marketing. O interesse dos vários “stakeholders” poderá ser uma potencial ameaça para a empresa.
Aqui, surgem algumas questões que mistura o econômico com o social: como manter um equilíbrio em sociedades marcadas por um desequilíbrio social tão grande? Como fazer para não misturar responsabilidade social corporativa com filantropia barata, quase beirando uma ação de caridade? Como pesar sustentabilidade, de uma forma completa, com tais desequilíbrios existentes?
Às vezes, vejo o discurso da sustentabilidade com certa desconfiança. Parece ser um discurso um pouco apelativo, com uma abordagem carregada de emoção. Até que ponto este discurso não desvia a discussão sobre uma componente política, através de uma ótica de apropriação de lucro e dominação, gerando uma maior desigualdade na distribuição de renda, favorável ao modelo capitalista, que não é totalmente inclusivo? A preocupação com a natureza, preservação do meio ambiente é totalmente autêntica? Não estaria faltando uma dimensão política, apresentada de forma explícita, na proposição da sustentabilidade e não apenas relacionada ou embutida nas dimensões social e econômica?
Se pensarmos em ações, outro texto (Nidomolu_Prahalad_Rangaswami, 2009) mostra os desafios que uma organização deverá enfrentar para estar preparada para a questão de sustentabilidade:
- Lançar um olhar para as necessidades futuras e desafiar a organização para buscar os caminhos para alcançar estes objetivos. Ou seja, falar de sustentabilidade, não é olhar para o hoje, mas para o futuro e começar, desde então, a criar os mecanismos para alcançar as metas propostas;
- Assegurar que o aprendizado virá antes de grandes investimentos. Ou seja, começar pequeno, aprender rápido e crescer. Não basta ter grandes ideias e grandes investimentos. É preciso adquirir conhecimento, para não criar frustração. Este conhecimento pode ser adquirido de forma colaborativa, a partir de experiências passadas;
- Manter-se firme no propósito, mas com a flexibilidade necessária para fazer ajustes táticos que se farão necessários;
- Criar um ambiente cooperativo, para aumentar a capacidade;
- Valer-se de experiências globais, para aprender a fazer.
O tema é relevante, requer engajamento, mas, no meu modo de ver, requer uma definição mais clara de quem, de fato, são os agentes que podem fazer diferenças significativas, qual o papel e responsabilidade de cada um e como as ações serão executadas. Para isto, no meu modo de ver, boa vontade apenas não é suficiente. É preciso ter vontade política.
Obs.: Se for ler este post, não imprima!
Um grande abraço.
Moacyr Ferreira
Oi Moacyr
ResponderExcluirTalvez o conceito de sustentabilidade esteja evoluindo...
Se nasceu de uma preocupação com o meio ambiente, depois estendeu-se para a esfera social e assim vai tornando-se mais abrangente para englobar as diversas relações que os indivíduos e empresas têm com os diversos componentes ao longo de sua existência.
Concordo com você que deve haver mais clareza de propósitos e deveres, no longo prazo. Não ficar apenas no politicamente correto e bonitinho, imediatista.
Para mim, sustentabilidade significa equilíbio. Uma relação, seja ela qual for, entre dois ou mais integrantes, só pode ser duradoura se houver equilíbrio na relação.
Por isso, sustentabilidade para uma entidade qualquer, seria a busca do equilíbrio que, ao longo do tempo, preservaria a existência do maior número de relações que ela precisa para existir, perpetuando-a.
Abs, Leandro
Oi, Leandro. Obrigado pelo comentário. Apenas para acrescentar. SE no conceito de sustentabilidade temos participação, engajamento, equilíbrio e inclusão, o que estamos vendo no mundo, com as enormes distâncias entre ricos e pobres, não vai cooperar muito para isto. E aqui, apenas para deixar claro, não estou falando de caridade. Estou falando de inclusão, de fato, sustentável, dando um horizonte para as pessoas. Se isto não mudar, de fato, mostrando o quanto o ser humano se preocupa com a humanidade, não vai adiantar muito este discurso de tomar menos banho, fechar torneira, deixar o carro na garagem, etc..
ResponderExcluirAbs
Moacyr