Watkins and Golembiewski sugerem que o aprendizado é “uma jornada sem fim”. Mas, a grande pergunta é: Como isto se aplicaria para uma organização?
Para Örtenblad, uma organização necessita ter quatro aspectos importantes: 1) Aprendizado organizacional, através dos diferentes níveis de aprendizado e do desafio em manter o conhecimento na organização, sendo usados de maneira prática, contribuindo para os objetivos estratégicos propostos pela empresa; 2) Aprendizado no trabalho (“learn on-the-job”), complementando processos formais de aprendizado, mas com aplicações práticas nas organizações para os problemas que se apresentam diariamente; 3) Clima propício ao aprendizado, não só do ponto de vista de abrir espaço para o tema, mas sim motivar, fomentar e valorizar esta prática, de maneira autêntica; 4) Estrutura de aprendizado.
A integração entre estes aspectos definirá o quanto
uma empresa, de fato, está preparada para o desafio de tornar-se uma
organização voltada para o aprendizado. Na visão do autor, uma empresa só pode
ser denominada uma empresa voltada para o aprendizado se ela possui, de maneira
integrada, todos estes 4 aspectos. Segundo o autor, poucas organizações possuem
os elementos para poderem ser chamadas, por completo, voltadas para o
aprendizado.
Esta era a opinião em 2004 e continuo achando que
poucas empresas têm dado a atenção necessária ao tema. Não bastasse os
mecanismos limitados de armazenamento, e, principalmente de acesso ao
conhecimento gerado, muitas empresas continuam falhando no incentivo e promoção
de conhecimento, sem contar a falta de estímulo para a troca de aprendizado. É
como se o conhecimento ainda fosse visto como fonte de poder (individual) e não
um recurso importante dentro das organizações para fomentar práticas
diferenciadas que atendam a seus clientes e “stakeholders”
de forma a alimentar a chamada vantagem competitiva sustentável. A criação de
um clima propício ao aprendizado passa pelo aspecto de liderança, no sentido de
desafiar o grupo, de maneira consistente e autêntica a buscar novas formas de
organizar os mesmos recursos gerando resultados diferentes e não apenas encarar
o tema aprendizado como algo importante e, portanto, permitido pela liderança.
A criação de uma estrutura adequada também é um aspecto importante que colabora
para o aprendizado organizacional. Estruturas fechadas com regras e
procedimentos rígidos ou burocráticos não incentivam o aprendizado, pois sempre
esbarraram em paradigmas difíceis de serem quebrados, contrariando uma premissa
básica de liberdade exigida para o processo de criação de conhecimento.
Portanto, pensar em gestão do conhecimento voltado
para realimentação de proposições estratégicas únicas, passa, obrigatoriamente,
pela maneira de pensar a organização no sentido de gerar, manter e dividir
conhecimento, não como fonte de poder individual, mas como possibilidade de
benefício coletivo, através de resultados que se manifestam através das pessoas
com os conhecimentos gerados, compartilhados, modificados, gerando novos
conhecimentos, como em uma espiral positiva, onde o processo, de fato, torne-se
uma “jornada sem fim”, porém baseado em propósitos sólidos e claros para os
participantes da organização que se sentirão mais parte do problema, do que
simplesmente esperar por algum lampejo de brilhantismo vindo dos altos
escalões, como se fosse a única solução para todos os problemas da organização
(não desmerecendo o papel importante que estes altos escalões têm na condução
estratégica das organizações). A integração dos aspectos facilita o aprendizado
organizacional e partir daí, então, as questões práticas do dia-a-dia
encontrarão respostas diferentes e criativas, reforçando a proposição
estratégica apresentada por esta empresa.
Em sua opinião, as empresas de hoje estão preparadas e
estruturadas para serem “Organizações voltadas para o aprendizado das
Organizações ”e não apenas aprendizado das pessoas, individualmente?
Um grande abraço.
Moacyr
Ferreira
Moacyr
ResponderExcluirParabéns pela escolha deste tema. Instigante.
Sobre os quatro elementos sugeridos por Örtenblad, percebo que as organizações minimamente estruturadas atendem, de uma forma ou de outra, bem ou mal, ao primeiro e quarto quesitos, pois o conhecimento adquirido acaba forjando e 'tornando-se' a própria organização através de seus produtos, processos, estrutura, etc.
Já em relação ao segundo e terceiro quesitos, parece-me que ainda estamos longe de atingir uma situação desejável. Os conhecimentos obtidos no dia-a-dia até são coletados, mas falhamos em reutilizá-los sistematicamente. Não revisitamos as lições aprendidas. 'Reinventamos a roda' diariamente.
Quanto ao clima para estimular o compartilhamento, sinto que em geral há boas intenções, mas na vida real falta exemplo, estímulo e mesmo desejo ou a percepção da necessidade de fazê-lo. Esta crítica vale para todos os níveis organizacionais.
Sendo o aprendizado contínuo tão importante, a própria estratégia da empresa não deveria conter elementos que a direcionassem para ele de maneira a sustentar a criação de seus diferenciais?
Arriscando uma resposta a sua pergunta final, talvez hoje e também em outros tempos as organizações líderes em seus segmentos são/foram - entre outros fatores - aquelas que melhor estiveram posicionadas para o aprendizado coletivo e souberam beneficiar-se disso.
Abraço,
Leandro
Oi, Leandro. Obrigado. O tema não é simples e, por isto mesmo, mereceria uma atenção maior, do ponto de vista estratégico da empresa. Dependendo do autor, cada um terá uma proposição diferente. Nonaka, trabalha uma linha mais de visão estratégica, e sugere que o caminho para a conversão de insights em conhecimentos práticos acontece através de um ambiente corporativo e, para isto, as pessoas criam uma identidade e compromisso com a empresa. Sua abordagem é mais voltada para empresas de cultura japonesa. No mundo ocidental, prevalece uma abordagem mais individualista, o que dificulta esta visão em empresas sob o domínio do capital ocidental.
ExcluirPara simplificar, existe outro autor chamado Siemieniuch que sugere uma rede intrincada de fatores para promover uma visão integrada do gerenciamento do conhecimento, partindo do que ele chama "Criar credibilidade através da liderança". Eu, particularmente, acredito muito nesta abordagem, ou seja, iniciar o incentivo e estruturação do gerenciamento do conhecimento sob um foco de liderança "autêntica".
Abs
Moacyr