sexta-feira, 9 de março de 2012

Organizações voltadas para o aprendizado ... da Organização

Na esteira do assunto relacionado com gestão do conhecimento, segue uma discussão específica sobre como uma empresa deve estruturar-se para promover um aprendizado interno. Vou utilizar como base um artigo de Anders Örtenblad (2004), com o título “The learning organization: towards an integrated model”, onde o autor propõe caminhos para uma estruturação adequada para uma empresa gerar, manter e multiplicar conhecimentos que serão utilizados nas práticas do dia-a-dia, para geração dos resultados superiores esperados, cooperando com a criação de uma vantagem competitiva.

Watkins and Golembiewski sugerem que o aprendizado é “uma jornada sem fim”. Mas, a grande pergunta é: Como isto se aplicaria para uma organização?

Para Örtenblad, uma organização necessita ter quatro aspectos importantes: 1) Aprendizado organizacional, através dos diferentes níveis de aprendizado e do desafio em manter o conhecimento na organização, sendo usados de maneira prática, contribuindo para os objetivos estratégicos propostos pela empresa; 2) Aprendizado no trabalho (“learn on-the-job”), complementando processos formais de aprendizado, mas com aplicações práticas nas organizações para os problemas que se apresentam diariamente; 3) Clima propício ao aprendizado, não só do ponto de vista de abrir espaço para o tema, mas sim motivar, fomentar e valorizar esta prática, de maneira autêntica; 4) Estrutura de aprendizado.
A integração entre estes aspectos definirá o quanto uma empresa, de fato, está preparada para o desafio de tornar-se uma organização voltada para o aprendizado. Na visão do autor, uma empresa só pode ser denominada uma empresa voltada para o aprendizado se ela possui, de maneira integrada, todos estes 4 aspectos. Segundo o autor, poucas organizações possuem os elementos para poderem ser chamadas, por completo, voltadas para o aprendizado.
Esta era a opinião em 2004 e continuo achando que poucas empresas têm dado a atenção necessária ao tema. Não bastasse os mecanismos limitados de armazenamento, e, principalmente de acesso ao conhecimento gerado, muitas empresas continuam falhando no incentivo e promoção de conhecimento, sem contar a falta de estímulo para a troca de aprendizado. É como se o conhecimento ainda fosse visto como fonte de poder (individual) e não um recurso importante dentro das organizações para fomentar práticas diferenciadas que atendam a seus clientes e “stakeholders” de forma a alimentar a chamada vantagem competitiva sustentável. A criação de um clima propício ao aprendizado passa pelo aspecto de liderança, no sentido de desafiar o grupo, de maneira consistente e autêntica a buscar novas formas de organizar os mesmos recursos gerando resultados diferentes e não apenas encarar o tema aprendizado como algo importante e, portanto, permitido pela liderança. A criação de uma estrutura adequada também é um aspecto importante que colabora para o aprendizado organizacional. Estruturas fechadas com regras e procedimentos rígidos ou burocráticos não incentivam o aprendizado, pois sempre esbarraram em paradigmas difíceis de serem quebrados, contrariando uma premissa básica de liberdade exigida para o processo de criação de conhecimento.
Portanto, pensar em gestão do conhecimento voltado para realimentação de proposições estratégicas únicas, passa, obrigatoriamente, pela maneira de pensar a organização no sentido de gerar, manter e dividir conhecimento, não como fonte de poder individual, mas como possibilidade de benefício coletivo, através de resultados que se manifestam através das pessoas com os conhecimentos gerados, compartilhados, modificados, gerando novos conhecimentos, como em uma espiral positiva, onde o processo, de fato, torne-se uma “jornada sem fim”, porém baseado em propósitos sólidos e claros para os participantes da organização que se sentirão mais parte do problema, do que simplesmente esperar por algum lampejo de brilhantismo vindo dos altos escalões, como se fosse a única solução para todos os problemas da organização (não desmerecendo o papel importante que estes altos escalões têm na condução estratégica das organizações). A integração dos aspectos facilita o aprendizado organizacional e partir daí, então, as questões práticas do dia-a-dia encontrarão respostas diferentes e criativas, reforçando a proposição estratégica apresentada por esta empresa.
Em sua opinião, as empresas de hoje estão preparadas e estruturadas para serem “Organizações voltadas para o aprendizado das Organizações ”e não apenas aprendizado das pessoas, individualmente?
Um grande abraço.
Moacyr Ferreira

2 comentários:

  1. Moacyr

    Parabéns pela escolha deste tema. Instigante.

    Sobre os quatro elementos sugeridos por Örtenblad, percebo que as organizações minimamente estruturadas atendem, de uma forma ou de outra, bem ou mal, ao primeiro e quarto quesitos, pois o conhecimento adquirido acaba forjando e 'tornando-se' a própria organização através de seus produtos, processos, estrutura, etc.

    Já em relação ao segundo e terceiro quesitos, parece-me que ainda estamos longe de atingir uma situação desejável. Os conhecimentos obtidos no dia-a-dia até são coletados, mas falhamos em reutilizá-los sistematicamente. Não revisitamos as lições aprendidas. 'Reinventamos a roda' diariamente.

    Quanto ao clima para estimular o compartilhamento, sinto que em geral há boas intenções, mas na vida real falta exemplo, estímulo e mesmo desejo ou a percepção da necessidade de fazê-lo. Esta crítica vale para todos os níveis organizacionais.

    Sendo o aprendizado contínuo tão importante, a própria estratégia da empresa não deveria conter elementos que a direcionassem para ele de maneira a sustentar a criação de seus diferenciais?

    Arriscando uma resposta a sua pergunta final, talvez hoje e também em outros tempos as organizações líderes em seus segmentos são/foram - entre outros fatores - aquelas que melhor estiveram posicionadas para o aprendizado coletivo e souberam beneficiar-se disso.

    Abraço,
    Leandro

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    1. Oi, Leandro. Obrigado. O tema não é simples e, por isto mesmo, mereceria uma atenção maior, do ponto de vista estratégico da empresa. Dependendo do autor, cada um terá uma proposição diferente. Nonaka, trabalha uma linha mais de visão estratégica, e sugere que o caminho para a conversão de insights em conhecimentos práticos acontece através de um ambiente corporativo e, para isto, as pessoas criam uma identidade e compromisso com a empresa. Sua abordagem é mais voltada para empresas de cultura japonesa. No mundo ocidental, prevalece uma abordagem mais individualista, o que dificulta esta visão em empresas sob o domínio do capital ocidental.
      Para simplificar, existe outro autor chamado Siemieniuch que sugere uma rede intrincada de fatores para promover uma visão integrada do gerenciamento do conhecimento, partindo do que ele chama "Criar credibilidade através da liderança". Eu, particularmente, acredito muito nesta abordagem, ou seja, iniciar o incentivo e estruturação do gerenciamento do conhecimento sob um foco de liderança "autêntica".
      Abs
      Moacyr

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