sexta-feira, 30 de março de 2012

Como entender a mente do consumidor?

Como entender a mente do consumidor pra fazer um planejamento de marketing efetivo?
Esta pergunta poderia encaixar-se facilmente na classificação de “pergunta do milhão” que muitos gostariam de ter a resposta. Obviamente, a resposta não é tão simples e neste “post” veremos algumas das variáveis que complicam ainda mais na obtenção de uma resposta mais assertiva. A idéia não é cobrir todos os aspectos sobre comportamento do consumidor. Mas, pra não ser tão genérico, no final, vou apresentar, rapidamente, uma abordagem sugerida pela IBM Business Consulting Services, entre várias outras disponíveis, apenas para ilustrar um dos possíveis caminhos para uma melhor eficácia do entendimento do consumidor de forma a suportar uma decisão de investimento em um programa de marketing que se justificaria através do resultado financeiro, com base no público-alvo selecionado.
Um primeiro ponto importante de reflexão é que os indivíduos cada vez mais têm pautado suas decisões por questões pessoais. O professor Luis Pessoa (PUC RJ) fez um questionamento interessante: Se é verdade que as pessoas têm privilegiado mais seu lado individualista, como explicar o sucesso das redes sociais? Uma possível resposta seria: será que as pessoas ingressam nestas redes para fazerem “1 milhão de amigos” ou será que elas ingressam para serem vistas por “1 milhão de amigos”, como parte de um processo de auto-referência? Nunca conseguiremos entrar na mente das pessoas e analisar com maior profundidade a razão das ações. Quem sabe um dia o “Neuromarketing” possa trazer algumas explicações para isto. De todas maneiras, o comportamento individualista impacta no processo de decisão de consumo, talvez não de uma forma tão racional.
No marketing, existem algumas teorias que tentam explicar o comportamento do consumidor, tais como: 1) A teoria da racionalidade, com suas análises da utilidade total e marginal; 2) A teoria comportamental, privilegiando aspectos psicológicos; 3) A teoria psicanalítica, confrontando o consciente com o inconsciente; 4) A teoria social e antropológica, interpretando hábitos e relações sociais; 5) A teoria cognitiva, tentando entender o significado das coisas.
Apesar de tantas abordagens, nem mesmo assim chegamos a conclusões mais objetivas para explicar determinados comportamentos de consumo, sem contar os avanços tecnológicos que fragmentam ainda mais estes comportamentos em situações distintas, em tempos distintos, como se o senso de pertencimento a um determinado padrão de consumo fosse similar aos “hyperlinks”, onde com um “click” migramos de uma parte a outra, dificultando o trabalho de identificação de padrões que serviriam como base para uma segmentação inicial.
Com este raciocínio, seríamos levados a pensar que nenhuma tentativa de interpretação do consumidor seria válida, o que, obviamente, não é verdade, pois senão não teríamos esforços de marketing com mensagens específicas, endereçada a públicos específicos. O que as empresas fazem, na verdade, é uma simplificação da abordagem, levando-se em conta um comportamento médio, onde se possa então fazer uma segmentação adequada, uma definição de mercado alvo, um posicionamento e a entrega da mensagem a um público que possa ser atingido e que permita recuperar os investimentos feitos.
Em um mercado onde a ação de marketing parte da empresa para o consumidor, através dos planos de marketing, esta abordagem de identificação de um padrão médio de consumo ainda é possível. O que fico perguntando-me é se a tecnologia não vai beneficiar mais o lado do consumidor, no sentido de aumentar o grau de liberdade de consumo, dificultando ainda mais o trabalho de identificação de padrões, segmentação, definição de mercado-alvo e posicionamento, forçando as empresas a dedicarem mais atenção ao tema do entendimento sobre o consumidor de uma forma mais profunda, com técnicas mais avançadas que as tradicionais pesquisas quantitativas.
Qualquer que seja o caminho, acho que a preocupação com o comportamento do consumidor, com toda sua complexidade inerente, é válida, até porque ainda precisaremos explicar como um produto vai se pagar através do mercado-alvo selecionado, o que implica em boas ações de marketing, dependentes da correta segmentação e do correto posicionamento da marca.
Um texto da HSM Management 54 de janeiro-fevereiro 2006, sobre um estudo da IBM Business Consulting Services (Todd Gurley, Spencer Lin e Steve Ballou) sugere uma abordagem para entender as escolhas do consumidor e iniciar uma atuação de marketing a favor da empresa. Essa ferramenta, chamada de modelo de processo de decisão do consumidor (CDP, na sigla em inglês), combina pesquisa de mercado tradicional e modelagem quantitativa. O CDP decompõe o processo de decisão do consumidor em milhares de elementos táticos que afetam as decisões: das atitudes dos consumidores à influência de preços competitivos, das mensagens publicitárias às estratégias do pessoal de vendas, das emoções dos consumidores às características dos produtos. Em seguida, utiliza dados de centenas de decisões de consumidores para medir o tamanho do impacto de cada elemento sobre a decisão final de compra. As empresas podem usar dados obtidos do CDP por toda a organização em áreas como estratégia corporativa, vendas, marketing, tecnologia da informação, cadeia de fornecimento e recursos humanos para melhorar sua posição no mercado. Ou seja, tenta capturar o máximo de informações sobre o comportamento do consumidor, através de vários elementos, que possam suportar uma definição, minimamente consistente sobre que segmentações podem ser identificadas e como definir o público-alvo, para, a partir daí, então, iniciar o trabalho de gerenciamento do marketing em todas as suas dimensões.

Quando você for às compras, da próxima vez, tente responder à seguinte pergunta quando já estiver de volta pra casa: Por que, exatamente, eu comprei isto hoje? Foi uma decisão racional? Emocional? Quem influenciou a decisão de compra? Você pode se surpreender com a resposta dada pra você mesmo, ao tentar entender as razões para a decisão do consumo.

Um grande abraço.
Moacyr Ferreira


6 comentários:

  1. Moacyr,
    Realmente esta é a pergunta do milhão. Ora atuando no varejo, passo horas analisando variáveis para modelar a sazonalidade do mercado (móveis e artigos de decoração de alto padrão). Ontem, conversando com a nossa gerente, ela disse (o economês é meu): não existem padrões, pois o consumidor é muito sujeito a variáveis exógenas que afetam o seu humor e sua propensão a consumir, começando pelo próprio clima. Veja só, tivemos um bom "janeiro", um excepcional "fevereiro" e um "março" apenas regular. Reuni algumas boas explicações, mas como percebê-las a priori para planejar ???

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  2. Resposta - Parte 1/2:
    Oi, Hermano. Obrigado pelo comentário. Mesmo sabendo que você possui este conhecimento, vou aproveitar seus comentários, didaticamente, para explorar alguns aspectos que não tratei no post. O que você comentou poderia estar relacionado com dois temas: A definição do público-alvo e o "diálogo" com seu público-alvo. Pela natureza do negócio, entendo ser um mercado de compras de "alto envolvimento" (decisões de compra muito criteriosa) e, portanto, creio que o problema de identificação de público-alvo não seja um tema para você. Deve ser um público bem conhecido.
    Ficamos, então, com o segundo tema de como comunicar-se com este público-alvo, para estimular a compra e minimizar o problema citado. Quando estava pensando no caso, lembrei-me muito do modelo de 5 etapas de decisão de compra do Kotler e pensei em algumas possíveis ações que comporiam um plano de marketing (imagino até mesmo um plano informal, no seu caso):
    Etapa 1 - Reconhecimento do problema: Uma possível ação poderia ser trabalhar com sua base de clientes e estabelecer uma comunicação com eles lembrando sobre compras passadas, sobre a boa experiência com a loja e informando sobre uma nova linha de produtos. O desafio seria fazer uma comunicação mais individual, pois cada cliente teve um tipo de experiência diferente e um interesse diferente e, provavelmente, será motivado de maneira diferente por uma nova linha. O fato é que um lembrete pode despertar o questionamento sobre a necessidade da troca de móveis ou da compra de novos. Uma outra ação, poderia ser entrar em contato com condomínios de alto padrão e enviar uma comunicação aos novos proprietários parabenizando-os sobre a compra do novo imóvel e despertando o interesse em criar um ambiente aconchegante, transformando o imóvel em um lar, colocando sua loja como uma opção para esta tarefa.
    Etapa 2 - Busca de informações: Por ser um público seleto, este público demandará um esforço maior de informação, que poderá ser on-line, mas poderá ser presencial, para aumentar a experiência positiva. Um aspecto que me veio à mente, seria atrelar alguns aspectos culturais à origem e fabricação dos móveis, para criar um discurso instigante, pois, desta maneira, não seria apenas uma "mesa, por exemplo", mas uma mesa criada por algum estilista, em uma determinada época, baseado em um determinado conceito, etc. O desafio é descobrir qual o interesse de cada cliente e, para isto, um CRM (qualquer que seja ele, pode ajudar).
    Continua...

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  3. Resposta – parte 2/2
    Etapa 3 - Avaliação de alternativas: Neste ponto, somente dar informação não é suficiente. Aqui, os temas de pontos de paridade e pontos de diferença começam a ficar muito relevantes. Você precisa atrair as pessoas para o ponto de compra, afastando a idéia, inicial, de preço alto. Ou seja, você precisa mostrar-se como uma opção viável para compra de móveis (ponto de paridade). Porém, você precisa fazer a diferenciação, pois este tipo de público requer exclusividade, requinte. Mostrar como você é diferente, mas qual o valor agregado que esta diferença traz, pode ser um bom exercício de pontos de diferença.
    Etapa 4 - Decisão de compra: Esta é a parte mais subjetiva e neste aspecto as influências podem ser relevantes. Criar uma rede de relacionamentos com arquitetos e trabalhar este público com respeito a seu portfólio, diferenciais, etc, pode ajudar. Este público é formador de opinião e, como referência, pode minimizar as incertezas de compra do seu público-alvo, que, tendo a crer estar mais preocupado com a questão estética decorativa e suas incertezas na hora da compra.
    Etapa 5 - Comportamento pós-compra: Esta é uma parte ignorada por muitas empresas. Um relacionamento pós-compra, com genuíno interesse na experiência do cliente, ajudará muito no processo de novas compras. Um telefonema, uma visita para tirar foto e apresentar como uma decisão de compra e decoração referência podem valorizar ainda mais a decisão de compra anterior, criando um vínculo ainda maior com sua marca.
    Bom, dei minhas opniões mais do ponto de vista teórico. Quem sabe você não queira compartilhar como acontece a coisa na vida real.
    Abs
    Moacyr

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  4. Oi Moacyr

    Tema complexo, mas apaixonante.

    Para mim, leigo no assunto, entendo que o mesmo pode ser levado a uma complexidade de análise infinita, dados os aspectos subjetivos, imponderáveis e imprevisíveis das decisões de compra.

    Mas ao fim e ao cabo, tem-se que adotar alguma forma de modelagem e simplificação para se decidir sobre investimentos em campanhas de marketing, como você bem colocou no texto do post.

    Agora, mudam os tempos, os costumes, a tecnologia, as interações sociais, mas certas coisas sempre continuam a existir, tal como o conflito de gerações. A forma dos problemas e desafios pode mudar com o passar do tempo, mas a essência é a mesma.

    Em outras palavras, com ou sem redes sociais, mobile marketing, social CRM, etc, o ser humano continua igualmente complexo e decidir sobre orçamentos de marketing continuará sendo difícil em 2030 tal como era em 1980.

    Abraço

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  5. Oi, Leandro. Obrigado pelo comentário.
    Um ponto que debati com alguns professores foi o questionamento sobre os modelos e ferramentas de compreensão do comportamento dos consumidores. Questionei se os modelos e ferramentas hoje aplicados não estariam, de uma certa forma (sem nenhuma conotação pedante ou arrogante), esgotados ou em esgotamento. A resposta é que de certa forma, sim, mas que eles ainda conseguiam justificar-se por apresentarem soluções de negócios que se viabilizam. Entretanto, cada vez mais, vemos uma preocupação no sentido de "influenciar" o consumidor, através de mecanismos manipulativos de linguagem e criação de discursos e, cada vez menos, de entender o consumidor. Existe uma ciência chamada "Semiótica" que, bem grosso modo, trata desta questão de interpretar o projeto da marca (sua intenção inicial) e o confrontamento com o consumidor no "momento da verdade". Se esta relação for consistente, maior será o sucesso da empresa na influência na mente do consumidor e na geração de resultados positivos para o negócio. Por exemplo, se uma empresa estrutura sua proposição de marca em algo flexível, ágil, mas no momento do confrontamento com o cliente, este percebe uma empresa lenta, despreocupada com seus interesses, complexa, inflexível, existe uma grande chance desta empresa enfrentar dificuldades em seu negócio. De uma certa forma, é um processo semelhante de espiral negativa de percepção e disponibilidade com a marca, visto no post sobre qualidade percebida pelo consumidor.
    Abs
    Moacyr

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  6. Legal, gostei do esclarecimento. Então, hoje há também um esforço maior no sentido de influenciar, não apenas de compreender o consumidor. Interessante.

    É, neste caso, o uso destas novas ferramentas de comunicação e interação são importantes mesmo.

    Mas como você disse, se não houver consistência entre discurso e realidade...

    Obrigado!

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