Qualidade medida pela percepção do cliente.
Enquanto não iniciaram
as aulas do mestrado, gostaria de dividir um tema bastante relevante
relacionado com qualidade, principalmente relacionado a serviços. Muito ouvimos
falar sobre qualidade e sua importância. Dentro de nossas organizações, certamente
escutamos sobre o compromisso com a qualidade e a importância da satisfação e
retenção de clientes como caminho para proporcionar margens e lucros adequados.
Mas, então, por que ainda temos um grau de satisfação tão baixo por parte dos
clientes, medidos através dos vários indicadores de qualidade? Minha resposta
seria porque ainda vemos qualidade associado somente ao pós-venda, através de
pesquisas de satisfação e, quando muito, durante a entrega. O fato é que a qualidade
é parte de um processo cíclico, passando pela relação com o cliente, pela
concepção da solução a ser oferecida, pela entrega e, finalmente, pela
percepção final do cliente sobre este ciclo.
O livro Marketing de
Serviços (Valarie A. Zeithaml e Mary Jo Bitner), apresenta um modelo muito
interessante: O modelo integrado de lacunas da qualidade de serviços. Este modelo
apresenta 5 lacunas: 1. Não conhecer a expectativa do cliente; 2. Não
selecionar a proposta e os padrões de serviços corretos; 3. Não executar os
serviços dentro dos padrões estabelecidos; 4. Não cumprir com o que foi prometido;
5. Lacuna do cliente, sendo a diferença entre o serviço percebido e o serviço
esperado.
Não quero estender-me
no detalhamento destas lacunas, mas apenas chamar a atenção sobre o aspecto da
promessa da solução, principalmente nos estágios iniciais do desenvolvimento do
negócio e das vendas. Para soluções que envolvem tecnologia, e organizações que
não têm sua cadeia de fornecimento integrada e consistente, é onde vejo um grande
risco de iniciar o desenvolvimento do cliente com base muito mais no aspecto
tecnológico do que na necessidade real do cliente. É como se a argumentação do “eu
sei o que é bom pra você, com base na minha vasta experiência” preponderasse.
O risco é ainda maior
para soluções mais complexas, onde outros agentes terão participação, sem
necessariamente estarem integrados no desenvolvimento da solução, do ponto de
vista de capacidade de execução desta solução. Basta vermos as várias
referências existentes entre as infindáveis discussões internas entre “vendas”
e “projeto”, na busca por um culpado pela má execução de uma solução.
Acima de todas estas
lacunas, eu citaria a lacuna do cliente como a mais importante, porque não
importa o que você faça e como você faça, se a percepção não corresponder ao
esperado. É justamente a diferença entre estes dois aspectos que apresenta o
quão satisfeito ou insatisfeito está o cliente.
Identificar a existência
desta diferença é importante, mas mais importante é conhecer a cadeia de
fornecimento interna para poder promover as mudanças estruturais necessárias,
que passarão por aspectos de capacitação, processos, organização e atitudes. Se
esta mudança estrutural não acontecer, todo o discurso de importância do cliente,
retenção e satisfação será discurso vazio, pois tudo que se disser em favor de
uma mudança que não puder, de fato, ser executada, aumentará ainda mais o nível
de “serviço esperado”, gerando mais insatisfação futura, até o ponto em que não
puder ser mais sustentável a relação comercial.
O tema é amplo. Se
tiver uma opinião diferente, divida conosco!
Um grande abraço.
Moacyr Ferreira
Fala Moacyr! Parabéns pelo blog! Nivaldo
ResponderExcluirA resolução do problema em questão esbarra na concorrência e o entendimento do Mercado, ou seja quanto o seu cliente está disposto a pagar a mais por uma dita qualidade superior na entrega, algo subjetivo e difícil de avaliar e pior que isso, essa mudança tem custos que nem sempre seu cliente quer pagar, Seus concorrentes vão sempre dizer que fazem melhor que vc e vão ganhar no preço... É um paradigma de mercado, por isso ficamos sempre na mesma....
ResponderExcluirOi Igor. Obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirVejo 2 pontos distintos no seu comentário.
Um aspecto é a dificuldade competitiva da empresa em enfrentar duras concorrencias de preço e, portanto, barganhando com o padrão de qualidade.
Outro aspecto é a falta de definição clara de um padrão de qualidade que possa balizar, corretamente, a competitividade do mercado, não apenas baseado no preço de compra.
Quando os temas se misturam, todos perdem. Perde o cliente ao comprar algo por um custo menor, porém com uma qualidade menor e perde a empresa ao não conseguir fechar negócio, ou pior, fechar com margens cada vez pioires, sem contar com o aspecto de baixa satisfação do cliente, afetando, ainda mais, os negócios futuros.
Meu ponto é que, uma vez que a empresa conheça as condições que deseja participar do mercado, o aspecto de qualidade deveria ser consistente, desde o início do processo (ex.: R&D) até o pós-venda.
Para combater o paradigma que você mencionou, uma saída seria trabalhar o conceito de "Solution Selling", no sentindo de influenciar o negócio a seu favor. Este tema, porém, vou deixar para um post futuro.
Abs
Moacyr
Moacyr, parabéns pela iniciativa!
ResponderExcluirVerifico que em função da forte concorrência no mercado por exemplo de Telecom, muitas empresas (principamente na área de serviços)definem as condições comerciais (preços) muitas vezes com a expectativa de realizar um escopo menor do que definido pelo cliente, buscando assim conquistar mercado com preços mais competitivos. Acho que isto tem a ver com "solution selling" que você mencionou acima, correto?
Este tema de qualidade é muito complexo mesmo ao meu ver, pois cada vez mais os clientes querem uma melhor qualidade e querem pagar menos.
Um abraço,
Marco Francischini
Obrigado, Marco, por seu comentário.
ResponderExcluirNa verdade, meu ponto se refere mais a uma preocupação das empresas com relação à qualidade somente em estágios mais avançados (pós vendas), baseado em indicadores de qualidade e satisfação (Customer Loyalty, por exemplo), na tentativa de reverter o resultado abaixo do esperado. Porém, o indicador de satisfação, neste estágio, refere-se ao passado e a menos que os esforços de correção sejam feitos na cadeia para corrigir o problema raiz, no sentido de influenciar resultados futuros, o grau de satisfação não aumentará.
Outro ponto importante é que esta avaliação de satisfação, por parte do cliente, é muito baseado em percepção, contra um resultado esperado.
Qualidade deveria ser uma consequência da proposta de valor a ser entregue ao cliente e não consequência do preço a ser praticado.
Quando as empresas encontram dificuldades em efetivar sua proposta de valor, esbarrando em temas de competitividade baseado em baixo preço, ela terá de tomar medidas para ou ajustar sua estrutura de custos ou influenciar na medida do preço desejado, que a leve a resultados financeiros adequados.
O conceito de solution selling pode ser muito útil na influência da solução desejada, com critérios técnicos e de qualidade desejados e praticados pela empresa, que permitam fazer com que o cliente incorpore em seus critérios de avaliação uma comparação mais justa, entre empresas capazes de atender os critérios técnicos e não apenas preço.
Quando o preço é o único critério de decisão, após um processo de qualificação técnica baseado em critérios técnicos básicos, as empresas que possuem um padrão mais elevado sofrerão, pois sua promessa (promoção) foi baseada em expectativas superiores de qualidade, performance e integração. Nesta situação, outra vez, a empresa necessita ou adequar sua cadeia de valor aos custos, mantendo consistência entre a promessa de entrega e a efetiva entrega, ou influenciar no preço, através dos critérios de decisão do cliente, ou ambos.
Tentar ajustar o padrão de qualidade, para acomodar o preço mais baixo, sem que isto esteja inserido em um contexto estratégico e refletido na cadeia de valor levará o cliente a ter uma expectativa muito alta e um resultado abaixo do esperado, independente das questões de preço. Isso, certamente, levará a uma insatisfação, que será representada nas pesquisas de satisfação.
Infelizmente, em mercados muito competitivos, com expectativas de resultados de curto ou curtíssimo prazo, essa avaliação acima acaba sendo relegada a um padrão teórico, pois prevalecerá o aspecto de sobrevivência. Minha ponderação com relação a esta argumentação é que os resultados podem até aparecer, por distintas razões, mas, certamente, não será sustentável e cada vez mais pressionará a empresa por resultados superiores que dificilmente virão, quer seja por insatisfação do cliente, quer seja por falta de adequação da cadeia de valor da empresa.
Abs
Moacyr
Moacyr, em seu texto, você chama atenção para o fato de que o tema qualidade (e os seus resultados) estão essencialmente associados às etapas finais da cadeia de valor, de forma especial ao pós-vendas.
ResponderExcluirMinha percepção é de que as empresas em geral - e as grandes corporações em particular, reconhecem que os esforços para a qualidade devem permear toda a cadeia de valor, tanto que, em suas pesquisas de satisfação, investigam a percepção de seus clientes em todas as interações do negócio (visão fim a fim).
O problema que vejo em relação a este ponto não é, portanto, de falta de reconhecimento da importância de aplicar esforços para adequar a qualidade em toda a cadeia de valor por parte das organizações. Mas sim de associar a qualidade muito mais a temas técnicos e tecnológicos do negócio do que aos aspectos mais voltados ao 'business' propriamente dito (comercialmente falando).
Qualidade do produto, qualidade do serviço, qualidade do processo parecem conceitos comuns a todos nós. Mas muito menos se fala da qualidade das ofertas em relação à proposição inicial, da qualidade do conhecimento do cliente, da qualidade do mapeamento das relações com o cliente, etc.
Em outras palavras, na teoria toda a cadeia está coberta pelo conceito de adequação da qualidade à proposta de valor, já na prática parece haver uma dissociação, especialmente nas etapas iniciais de desenvolvimento do negócio como você bem mencionou.
Talvez isto se deva - apenas em parte - à própria origem mais formal do tema Qualidade, muito ligada aos processos fabris na primeira metade do século XX.
Daí que a qualidade esteja fortemente presente no desenho e execução de práticas fabris, de serviço (entrega) e de suporte. Porém, não parecem estar 'no sangue' das fases iniciais do negócio, embora os manuais de qualidade (ISO e afins) e pesquisas de satisfação também as contemplem.
O fato é que independentemente do mercado em que se atue e da condição em que se encontre a empresa nele, esta adequação deve ocorrer, caso contrário valerá aquele ditado "não há vento favorável para quem não sabe onde quer chegar".
Seria a Apple um bom exemplo de visão e aplicação deste conceito de qualidade vista pelo cliente? Sendo uma das empresas mais valiosas e com maiores ganhos por ação, no momento parece que ela está ajustada a este conceito. E seria a Samsung um concorrente que está conseguindo este mesmo sucesso?
Seria a Hyundai outro bom exemplo de organização que está sabendo utilizar este conceito, ameaçando rivais centenárias no setor automotivo?
Há muito mais que se falar sobre este tema, mas fica aí minha provocação a você.
Forte abraço.
Leandro
Oi, Leandro.
ExcluirObrigado pelo comentário.
Chamei a atenção para um gap, entre outros 4, presentes no modelo de lacunas, apresentado no livro da Zeithmel.
Basicamente, o tema está entre a diferença da percepção do serviço entregue contra a expectativa do serviço a ser realizado.
Nos casos acima citados por você, até poderíamos fazer esta análise de qualidade, mas acho que está muito mais relacionado com o tema de tomadas de decisão do consumidor, através dos vários elementos que compõe esta influência sobre o consumidor. Além do mais, acho que a decisão de compra passa por um processo comparativo entre marcas e, cá pra nós, as qualidades são muito similares (Eu tenho um GM e a qualidade é sofrível). Com base nas experiências negativas, principalmente relacionadas com qualidade, sobretudo no que diz respeito a processos pós venda, as pessoas tornam-se vulneráveis a experimentar novas marcas.
É difícil, pra mim, fechar em uma só resposta, pois acho que é um mix entre espaços deixados por empresas líderes no passado, com um aprendizado de empresas que aproveitaram estes espaços, quer seja na proposta de fornecimento, quer seja na qualidade associada.
Bom tema para reflexão!
Abs
Moacyr