sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ambiente competitivo e estratégia.

No blog passado falei sobre o gap de qualidade do cliente (diferença entre o esperado e o entregue) e da importância do monitoramento do aspecto de qualidade a partir dos estágios iniciais e não apenas no pós venda, através de pesquisas. Ressaltei a importância de uma cadeia de fornecimento consistente, para evitar que este gap se apresente de maneira negativa, impactando novos negócios.

Deste tema, surgiu uma solicitação que entendo estar relacionada com o tema acima e, por isto, gostaria de comentar neste blog. A sugestão veio de um grande fornecedor de recursos especializados para a área de infra-estrutura de telecomunicações, mas serve igualmente para outras áreas: Como diversificar sem mudar o foco principal de uma empresa? Ate onde serviço x preço pode chegar? A entrada de novos players (que praticam preço baixo) ajudam a inovar a buscar outras áreas?

Para abordar este tema, gostaria de mencionar o livro da Joan Magretta (Understanding Michael Porter), onde ela faz uma análise das proposições de Porter para o mundo dos negócios.

O ponto central do livro é mostrar como uma organização, em face de um ambiente competitivo, obtém performance superior. Ao invés do que muitos pensam, a questão não é competir para tornar-se o melhor, mas sim criar uma vantagem competitiva que a torne única, perante o cliente. Ou seja, tomar decisões estratégicas que busquem maneiras de atender os clientes de forma distinta e única dos competidores de forma a obter performance e resultados superiores. Outra vez, o ponto principal do ambiente competitivo não é derrotar os adversários, mas obter retorno financeiro superior: trata-se de tomadas de decisões estratégicas influenciando ou o preço relativo ou o custo relativo a seu favor, ou ambos.

Aqui, retornamos ao tema de uma cadeia de valor. Ou seja, definir as atividades, ao longo da cadeia, que criam valor ao cliente. Parece simples, mas muitas vezes vemos empresas subestimando a importância de suas proposições estratégicas, principalmente no que diz respeito ao enfraquecimento da cadeia de valor, com muitas ineficiências que não reforçam o objetivo estratégico desejado.

Para isto, a empresa precisa ter muito claro qual proposição de valor ela deseja ter (Que clientes atender? Que necessidades a serem atendidas? Qual nível de preço praticar?) e como ajustar sua cadeia de valor (processos, ferramentas, competências, organização, etc) de forma a criar uma vantagem competitiva que a torne única, capaz de atingir resultados superiores aos competidores de sua indústria.

Porém, parte da análise passa pela reflexão do modelo de 5 forças, onde competidores e novos entrantes estarão pressionando, ou tentando copiar a fórmula de sucesso que destaca a empresa com performance superior. Neste ponto, entra o aspecto de inovação e escolhas, para permitir que a empresa possa defender sua vantagem competitiva de maneira sustentável.

O que tudo isto tem a ver com as perguntas originais? Tudo, no sentido de que sim, novos entrantes pressionam para que as empresas sejam inovadoras, mas não se trata de uma competição por preço x qualidade, apenas para derrotar os adversários. Trata-se de tomada de decisões estratégicas que permitam a empresa apresentar-se de maneira diferenciada, com uma proposição de valor que faça sentido para o mercado e que permita a obtenção de retornos financeiros superiores aos competidores, quer seja na influência da estrutura de custo, quer seja na prática de preços superiores, ou ambos.

Quando uma empresa consegue posicionar-se de maneira única, com práticas que seriam difíceis de serem copiadas, ela acaba reforçando sua vantagem competitiva que permite obtenção de resultados superiores.

Um grande abraço.

Moacyr Ferreira




2 comentários:

  1. Moacyr, então são dois os desafios: definir uma estratégia correta para sua proposição de negócio e, ser capaz de executá-la corretamente.

    Com isto em mente, acredito que hoje muitas empresas se vejam no desafio de escapar da armadilha preço-abrangência-qualidade, tanto na definição da estratégia quando na sua execução (adequação da cadeia de valor).

    Por exemplo: foquei na rentabilidade, mesmo sacrificando um pouco o market share ou share of wallet, como seja. Ops, perdi volume demasiadamente. Peciso rever a estratégia: vou voltar a aceitar negócios menos rentáveis em favor da participação de mercado e do crescimento das vendas. E aí?

    Ou então: os clientes querem tudo (qualidade de serviço, escopo abrangente, riscos e penalidades complicadíssimos) por um preço baixo demais. Como me diferenciar (estratégia) para ser único neste segmento ou mercado? Ou não há como me diferenciar e tenho que mudar de foco?

    Vejo isto de forma mais fácil em mercados de varejo, onde uma empresa pode optar por segmentos high-end e/ou low-end, com estratégias diferenciadas para eles.

    Mas e em um mercado b2b, corporativo apenas, onde as opções não são tão amplas e o poder dos clientes é muito grande e concentrado?

    Neste caso, diferenciar-se para ser único não representaria também vencer a concorrência?

    Forte abraço.

    Leandro

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    1. Oi, Leandro.
      Utilizei-me da proposição de Porter.
      Na verdade, a estratégia estará baseada na constituição de uma boa proposição de valor para o(s) cliente(os) e como você combina os recursos para gerar esta proposição de valor (cadeia de valor). Além disto, muitas vezes, a empresa precisa fazer escolhas (ex.: dada a proposição de valor e forma como está estrurada a empresa para entregar este valor, que clientes farão parte da base? Às vezes, alguns clientes poderão gerar rentabilidade negativa, levando-se em conta a estrutura montada para atender ao mercado). Como o próprio Porter sugere, estratégia tem muito mais a ver com as escolhas que fazemos sobre o que não fazer (o que exluímos) do que escolhas que fazemos sobre o que fazer.
      Outro ponto importante, destacado por Porter, é a questão da avaliação das escolhas adequada à estratégia. Ou seja, as escolhas feitas reforçam a estratégia?
      Por fim, a questão do aprendizado. Uma estratégia boa, se faz ao longo do tempo.
      Indo aos seus comentários, tudo tem a ver com rentabilidade superior.
      Se você decide praticar uma estratégia baseada no market share, como você está preparando sua cadeia de valor para alcançar isto? Se alcançar isto, vai estar gerando rentabilidade maior do que os concorrentes dentro da mesma indústria? Se não, algo na estratégia deve ser revisado.
      Se a estratégia é baseada em baixo custo, isto não significa que você deve comprometer qualidade. Veja o exemplo da tão falada classe C. Eles não aceitam mais qualquer produto. Querem bons produtos por preços baixos (Ex.: Ricardo Eletro, Casas Bahia).
      Se sua estratégia é consistente e cria valor diferenciado para o cliente, você criará uma vantagem competitiva, que permitirá atingir rentabilidades superiores (comparadas sempre à indústria a qual a empresa pertence).
      Abs
      Moacyr

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