sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Alianças Estratégicas e Inovação


            Vários autores já relataram a importância da inovação para a criação de vantagens competitivas nas empresas. Como não poderia deixar de ser, a inovação também tem papel de destaque nas alianças estratégicas, apesar a forma como ela é gerada ser diferente. Porém, a inovação pode ser melhor alavancada por alguns fatores, tais como a liderança que um peso fundamental neste processo.
            Alguns autores como Vapola (2007), argumentam que as inovações, principalmente em indústrias de alta tecnologia, impactam diretamente a vantagem competitiva das empresas. Se bem trabalhada, pode trazer o aspecto positivo esperado. Porém, isto dependerá de algumas decisões estratégicas relacionadas com a criação desta vantagem competitiva.
            No processo de criação da vantagem competitiva, a chamada competência distintiva (Volmann, 1996), exerce um papel fundamental. Este papel será ainda mais fundamental se esta competência distintiva for capaz de criar a vantagem competitiva sustentável. Quando nos referimos à criação de competências distintivas, devemos levar em consideração dois aspectos importantes: i) a efemeridade desta competência, no sentido da criação de uma vantagem competitiva sustentável. Será muito difícil que em ambientes de alta instabilidade, como o de tecnologia, uma vantagem competitiva seja sustentada por um longo período, embora isto seja um desejo das empresas; ii) a necessidade de criação de novas competências (criadas internamentos ou através dos parceiros, que permitam renovar e dar mais robustez à vantagem competitiva, para que, de fato, ela se torne sustentável. É este processo inovador, impulsionado por novas descobertas, que faz com que as empresas sobrevivam na mente dos consumidores. Basta lembrarmos da força de marcas como a Sony, Samsung, Google e rapidamente você poderá lembrar porque ela chama sua atenção ao longo do tempo com suas soluções, muitas delas, inovadoras.
             Um autor chamado Teece (2007) relatou em seus estudos que a criação das chamadas “Dynamic Capabilities” pode ser capaz de fazer com que a empresa não somente adapte-se ao ambiente competitivo, mas influencie nas regras através de um processo de inovação, juntamente com seus parceiros. Quando falamos de formação e sustentação de alianças estratégicas, a necessidade constante de adaptação, principalmente em mercados instáveis, faz com que a vulnerabilidade passe ser algo intrínseco. Esta vulnerabilidade pode manifestar-se através de deficiências internas ou até mesmo pela própria exposição ao ambiente macro.
              O conhecimento alavancado dentro das relações de parceria pode ser um fator importante neste processo de geração de inovação. Porém, a criação e gerenciamento deste conhecimento será um elemento fundamental para a defesa contra ameaças do ambiente macro. Principalmente aqueles conhecimentos que contribuam para o aspecto de inovação, pois será capaz de gerar um impulso para a captura das oportunidades apresentadas, de maneira mais efetiva que seus rivais. Não é por acaso que as empresas investem uma quantia significativa de seu faturamento em atividades de R&D (Research & Development). A menos que você tenha uma marca muito conhecida e com sua fórmula de sucesso, como é o caso da Coca-Cola, a chance de seu produto ser copiado, ou superado por outro, é grande. Ainda mais em mercados de alta tecnologia. Provavelmente, se você ainda tiver algum, não vê o seu desktop com a importância que ele tinha a 5 ou 10 anos atrás.
              A inovação poderá ocorrer não apenas dentro da empresa, mas também fora. Isto pode acontecer através de um processo colaborativo com parceiros estratégicos. O processo de inovação pode ser favorecido pela colaboração existente entre empresas que atuam em mercados globais e empresas inovadoras, muitas vezes caracterizadas como “Born Global”. Vejamos o caso da Rovio, uma empresa de Software aplicativo, sediada na distante Finlândia. Para situar, é a empresa que criou o jogo “Angry Birds”. A empresa surgiu a partir da possibilidade de ocupar um espaço no mercado de jogos para celulares, mas também impulsionou os equipamentos celulares a melhorarem suas tecnologias, para permitirem uma melhor experimentação por parte dos usuários, ávidos por consumir e entreter-se com o aplicativo.
              A inovação, que surge por meio de um aspecto colaborativo, muitas vezes, não Vem de dentro das empresas por estas não possuírem a flexibilidade e agilidade necessárias para o desenvolvimento do produto. Os parceiros externos podem ser capazes de gerar, através da diversidade de ideias e intenção em dividir o conhecimento gerado, um ganho comum de benefícios entre as empresas.
              Criação e renovação tornam-se palavras de ordem para o mecanismo de inovação, fundamentalmente através do conhecimento aplicado aos processos ou aos recursos (PRAHALAD & KRISHNAN, 2010). Desta forma, este conhecimento deve ser gerenciado adequadamente, permitindo fluência dentro da organização, para alimentar um ciclo positivo. A criação de conhecimentos tácitos, (aquele que não podemos transferir de maneira formal) e de um ambiente estável e propício para um melhor gerenciamento do aspecto de inovação, permitirá a troca de conhecimentos, possibilitando, então, o surgimento de outras ideias inovadoras.
              Os autores Lienbach & Brunn (2002) propõe o conceito de National Innovation System (NIS). Por este conceito, os agentes contribuem individualmente para o processo de inovação tecnológica. Deve-se destacar a importância de uma contextualização estratégica sobre o processo de inovação, para que o produto gerado seja efetivo, no sentido da criação de uma vantagem competitiva sustentável. Dentro do conceito de National Innovation System, os agentes criam os parâmetros necessários para que o governo exerça um papel de fomentador, direcionando investimentos para transformação de conhecimentos e inovações em ações mercadológicas que tragam benefícios para empresas e sociedade. Isto aconteceu com empresas como a Nokia, no início da década de 1980, onde o governo finlandês e outras instituições geraram as condições básicas para criação e troca de experiências e conhecimentos.
              Em contraponto, autores como Nelson & Rosemberg (1993) questionam o conceito de nação, uma vez que os agentes vêm de distintas partes. Isto cria uma discussão sobre que governo, de fato, teria este papel de fomentador. Esta discussão abre espaço para o conceito de Industrial Clusters, onde grupos de empresas com interesses similares patrocinam o estagio inicial de inovação, substituindo o papel do governo. Reforça-se, assim, um conceito proposto por Doz & Hamel (2002) sobre o nível metanational no processo de formação de alianças estratégicas, capazes de mobilizar recursos globalmente, em prol da fomentação da inovação, fator fundamental para a criação de uma vantagem competitiva. Ou seja, a inovação não ocorre somente no nível de empresa, podendo acontecer através da interação entre as empresas e outras instituições, tais como universidades, centros tecnológicos, etc. Atualmente, o Rio de Janeiro vem realizando grandes esforços para o desenvolvimento de polos tecnológicos, atraindo grandes empresas como GE, FMC, etc. O objetivo?: Gerar conhecimento, capaz de gerar desenvolvimento e empregos, beneficiando empresas e sociedade.
              A busca por uma maior estabilidade que permita maior efetividade na troca de conhecimentos é um grande desafio em setores que lidam com alta tecnologia. Este é o caso da indústria de telecomunicação móvel. Nestes ambientes de grande instabilidade, com constantes inovações, a autora Ritala (2012) aponta, em seus estudos, a hipótese de que a colaboração entre as empresas ajuda neste processo de inovação na medida em que se diluem risco e custo de desenvolvimento entre mais agentes participantes deste processo.
              Ao falar de aspectos estratégicos e de sua implantação efetiva não há como deixar de abordar a participação da liderança no processo de criação das parcerias estratégicas. A liderança pode ser capaz de diminuir a distância cultural entre as empresas e aumentar o grau de confiança entre os atores. Com isto, criam-se as condições necessárias para o aparecimento de novas ideias. Adicionalmente, a liderança terá papel fundamental na implantação destas ideias de forma a criar fatores distintivos com relação à concorrência.
              Ao longo dos últimos posts, construí a argumentação de que as alianças estratégicas têm um grande papel na atualidade. As possibilidades que se abrem, neste mundo cada vez mais globalizado, são imensas. As ameaças, também. Por isto muitas empresas falham na missão de compor suas alianças estratégicas, pois elas dependem de fundamentação adequada, gerenciamento e ambiente capaz de permitir uma situação de vantagem competitiva sustentável. Nunca esqueçamos o papel da liderança neste processo. Uma liderança fraca é o começo do fim de uma aliança e, potencialmente, das empresas que compõe esta aliança.
Bom final de ano!
Moacyr Ferreira

 

 

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