domingo, 12 de maio de 2013

CRM serve para minha empresa?

             O acrônimo CRM atende por Customer Relationship Management. Mas o que é isto, de fato? De maneira muito simples, é a forma de organizar sua base de clientes para interagir da forma mais próxima e individual possível de maneira a extrair o melhor benefício para o cliente e para a empresa. Muitas empresas falham nesta missão na tratativa com o cliente e falham na tratativa de explorar melhores negócios ao tratar o “mercado” como uma coisa única.
 
            Quando penso em CRM, é inevitável não pensar no mercadinho do seu Hiroshi, onde, há muitos anos atrás, eu ia comprar mantimentos para minha mãe. Um mercado pequeno, com aproximadamente 100 metros quadrados, comercializando produtos básicos de alimentação, limpeza e até alguns itens de conveniência. Ele deveria ter uma centena de clientes (famílias) que faziam suas compras mensais naquele estabelecimento, uma vez que os grandes supermercados, além de distantes, também eram caros, com produtos que atendiam uma classe mais elevada. A única coisa automática, pelo que me lembro, era o caixa. O CRM dele ficava na cabeça. Ele conhecia as famílias e sabia o que oferecer. Ele lembrava da chegada de um produto ou outro. Ele buscava a satisfação e a comodidade em função dos interesses de seus clientes. Tinha até entrega em domicílio, naqueles engradados de cerveja, de acordo com a disponibilidade das pessoas. “Dona Maria, a senhora vai querer que entregue na parte da tarde, como sempre, certo? Pode ficar tranquila porque não vai atrasar”. E não atrasava! E isso ocorria mês a mês. Com o tempo, o mundo mudou e novas empresas entraram neste ramo, buscando novas formas de agradar seus clientes. Mas, durante o tempo em que pode, o mercadinho do seu Hiroshi foi um excelente negócio para ele e para seus clientes.
 
            Com a complexidade dos negócios atuais, já não é possível entender os clientes sem o auxílio de uma solução automática. Por isto, o CRM surge como uma forma de capturar informações e traduzi-las em uma forma organizada para que toda a cadeia de valor da empresa possa extrair a informação necessária para suportar a ação específica que se faz necessário para influenciar tanto a intenção como o comportamento de compra dos clientes.
 
            Várias são as soluções de CRM no mercado, das mais caras às mais econômicas. Em comum, os sistemas apresentam estruturas básicas para cadastramento de dados sobre o cliente, registro de atividades com este cliente, endereços, atributos de marketing, comportamentos, histórico de interação e notas.
 
            Um bom CRM permite que o público alvo seja alcançado por meio de campanhas efetivas, que agradem aos clientes e que permita à empresa fazer bons negócios. Exatamente o contrário do que fazem as empresas com “toneladas” de e-mails sobre assuntos irrelevantes, na tentativa de caçar um ou outro interessado no tema. Não vai me dizer que você fica contente quando recebe um e-mail dizendo: “Sr João, veja nossas ofertas imperdíveis sobre produtos de pesca importados, com preços incríveis”. Quem disse que gosto de pesca? Quem disse que quero conhecer a empresa? Quem disse que os preços são atrativos, sem conhecer a renda disponível do comprador?
 
            Talvez, o melhor exemplo de um CRM seja o da Amazon. Quem já teve a oportunidade de comprar algo pelo site, sabe do que estou falando. Ao entrar, você recebe uma mensagem individualizada, com seu nome, agradecendo a visita. Até aí, tudo certo, porque a grande parte dos sites de compra onde você se cadastra, também faz. O interessante começa quando o site apresenta potenciais produtos de interesse, em função de suas consultas ou compras passadas. É como se ele dissesse: Já que o senhor está buscando um produto “x”, porque não dá uma olhada nestes produtos “z”, “y” e “w”. Ou, já que o senhor comprou um produto “x”, veja outros produtos que outras pessoas também compraram. Ou, até mesmo, veja a lista de produtos que o senhor já visitou, para lembra-lo de algum item de pesquisa feita há algum tempo atrás.
 
            A grande preocupação deste tipo de interação começa com a captura dos clientes. Neste caso, o site permite segmentar os clientes e endereçar diferentes soluções a diferentes públicos alvo. Nem sempre isto é possível em empresas tradicionais. Nestes casos, antes de iniciar uma relação próxima com os consumidores, a primeira questão é a da definição de que clientes quero, de fato, alcançar com meus produtos.
 
            Uma vez estabelecida a relação com a base de clientes, seria de se esperar que esta relação fosse aprofundada, para que a empresa desse mais atenção aos interesses dos clientes adquiridos, criando experiências positivas repetitivas, levando à lealdade. O que vemos, na prática, é outra coisa. Uma sedução absurda para capturar a clientela. Uma vez capturada, você vira literalmente, mais um. Que me digam os usuários de TV por assinatura e que me contem suas experiências como cliente! Ou até mesmo os clientes de operadoras de telefonia, levados ao desespero quando precisam de uma solução para a resolução de um problema que afeta este consumidor. Sempre que possível, o consumidor acaba optando pela saída da base de clientes. É o chamado “churn”. Efeito terrível para as empresas que necessitarão novos investimentos para captura de clientes ou para a tentativa quase impossível de resgatar os que se foram. Sem contar a publicidade negativa boca-a-boca.
 
            Tendo capturado e retido um cliente, o passo seguinte é extrair valor da relação. Ou seja, a partir de experiências positivas, repetidas, o cliente transforma sua intenção de compra em comportamento de compra e passa a estabelecer uma relação de confiança com a empresa, aceitando pagar mais, para manter o nível de relacionamento.
 
            O grande problema de nossas empresas é o legado da mentalidade colonial de exploração. A grande parte ainda, erroneamente, está interessada na compra individual do cliente. Se ele voltar, ótimo. Se não, vamos para a caça do próximo. Poucas estão interessadas na manutenção do relacionamento. O curioso é que isto acontece para produtos de baixo valor ou de alto valor. Você é bem tratado pela concessionária de veículos após efetuar uma compra de um item de alto valor? Alguns até poderão dizer que sim. Outros, certamente mostrarão sua indignação e multiplicarão esta manifestação negativa a outras pessoas. Será que as empresas se importam? A triste resposta é que ainda não, pois estão mais focadas na próxima “presa”. Só ganha atenção o consumidor que causa grandes impactos através do youtube, email, etc. Mas, aí, não é atenção. É reação para tentar apagar o fogo criado.
 
            Um problema com a implantação de CRM nas empresas está justamente na definição do público-alvo. Se você não sabe quem é seu público alvo, como interagir? Como criar valor?
 
            Outro problema é a consciência e disciplina na coleta de informação. Os dados do cliente não são de posse do vendedor! São de posse da empresa e precisam estar disponíveis para as várias ações na cadeia de valor.
 
            Adicionalmente, um sistema CRM precisa ter o suporte do primeiro nível executivo da empresa, pela necessidade de alinhamento estratégico das áreas em torno das ações relevantes.
 
            Finalmente, CRM não é só um sistema a mais e nem tampouco um relatório.
 
            O CRM, se usado, é uma ferramenta poderosa para conhecer melhor sua base de clientes, antecipar suas necessidades ou preocupações, no sentido de endereçar soluções que agreguem valor para eles e para sua empresa.
 
            A grande mudança está em tratar a venda como uma sequência de interações com os mesmos clientes ao longo do tempo, ao invés de buscar novos clientes, todo o tempo, para compensar a perda de outros.
Boa semana.
Moacyr Ferreira

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