quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Elemento Preço e o Consumidor.

            O preço, segundo Olson & Peter (2009), talvez seja o único elemento do marketing mix relacionado com receita. Isto explica porque as pessoas evitam falar sobre políticas ou estratégias de preços. A decisão de estabelecimento de preços requer algumas reflexões e cuidados, que veremos neste post.
 
            Falar do preço, como um dos elementos do marketing mix exige que comecemos a conversa por uma boa decisão de segmentação de mercado. A segmentação de mercado é um passo importante e muitas vezes baseados em critérios: de benefícios; psicográficos; situacionais e geodemográficos. Porém, nos últimos anos o comportamento do consumidor tornou-se mais complexo e, muitas vezes, multifacetado, com diversos gostos e preferências em diversas categorias. Você pode ser um executivo que curte vídeo games, mas também livros clássicos quando faz suas viagens para lugares isolados para fugir da agitação do dia a dia, com seu utilitário off road. A que segmento você pertenceria?
 
            Portanto, este consumidor já não pode ser tratado com uma visão puramente técnica na composição dos segmentos de mercado. A análise dos aspectos afetivos, cognitivos, comportamentos e ambiente devem ser considerados para uma segmentação efetiva. Uma boa segmentação permitirá a escolha mais adequada do público-alvo a ser alcançado. Com uma melhor definição do público alvo vem a questão do bom posicionamento da marca e dos produtos, bem como a melhor estratégia para o alcance dos resultados esperados pela organização.
 
            As ações táticas relacionadas com os elementos do marketing mix, como o preço, são consequência dos passos anteriores. Não podemos falar de um elemento do marketing mix isolado. Preço, Promoção, Distribuição e Produto devem ser consistentes entre eles e as ações devem estar alinhadas!
 
            Mas o que vem a ser o preço? De uma forma simplista, podemos definir como uma medida de valor monetário que um consumidor abre mão em troca de um produto ou serviço. Porém, é um conceito bastante abstrato e baseia-se em poucos sentidos (ex.: visão e audição). A troca não pode ser vista puramente do ponto de vista da empresa, com respeito ao estabelecimento de preço que a empresa deseja praticar para o alcance dos lucros esperados. Para o consumidor, o preço leva em conta outros aspectos, tais como conveniência, distância, tempo, esforço de compra. Tudo isto colabora para uma precificação baseada em valor. A troca só acontece no mercado quando o valor atribuído pelo consumidor iguala o preço desejado pela empresa.
 
            Kotler (2010) define alguns passos para um bom estabelecimento de preços:
 
Passo 1: Alternativas para a seleção do objetivo da determinação de preços: i) Uma empresa pode optar por uma prática de sobrevivência, por meio de preços baixos, para poder continuar vendendo. (Ex: Pequenas lojas de varejo); ii) Pode optar por uma maximização do lucro atual, relacionado com um segmento que aceite pagar um preço mais alto, independente da relação com qualidade do produto (Ex.: Commodities); iii) Pode optar pela maximização da participação de mercado (Ex.: Empresas interessadas em ganhar Market Share, ainda que comprometa a lucratividade durante algum tempo); iv) Outra prática que a empresa pode escolher é o “desnatamento” máximo do mercado (Ex.: Produtos eletrônicos, introduzidos com altos preços, mas diminuindo o preço gradualmente, à medida que novos aparelhos ingressam no mercado); v) Uma pratica utilizada para prática de preços premium está relacionada com a liderança com base na qualidade do produto (Ex.: Pão de Açucar, com produtos de primeira linha, negociados com valores superiores, baseados na percepção de qualidade do consumidor). Um erro comum que uma empresa pode cometer é ter diversas linhas de produtos com práticas de preços diferentes. A definição do público-alvo leva a um posicionamento único e uma diversificação de preços em uma mesma empresa pode levar a uma percepção errônea sobre a empresa. Pense em um produto exclusivo e caro, tais como jóias. Se a empresa decidir comercializar jóias caras junto com outros produtos mais baratos, diferentes públicos poderão ser atraídos e, talvez, o público que deseja exclusividade se afaste, por ver que muitas pessoas poderão ter acesso à marca, antes direcionada a um público seleto e símbolo de status.
 
Passo 2: Determinação da demanda: i) Levantamento da sensibilidade a preço; ii) Estimativa da curva de demanda; iii) Elasticidade de preço de demanda.É preciso entender o quão sensível são os consumidores para as variações de preço e que motivadores afetam esta sensibilidade (afeto, cognição, ambiente). Tomemos como exemplo uma empresa que trabalhe com base em valor, praticando preços altos para produtos exclusivos ou diferenciados. Atraídos por produtos específicos de alta qualidade, o consumidor não deixará de comprar o produto mesmo que o preço aumente dentro de uma determinada faixa à qual o consumidor não seja sensível. Suponhamos que o público alvo, neste caso, seja um público de poder aquisitivo mais elevado, diferentemente do consumidor de baixa renda que dada uma pequena variação de preço, será muito sensível e evitaria ou postergará a compra.
 
Passo 3: Estimativas de custo: i) Tipos de custo e níveis de produção; ii) Produção acumulada; Contabilidade de custos baseada em atividade; iii) Determinação de custo-alvo. O correto entendimento sobre a estrutura de custo é fundamental para a cobertura dos custos fixos e variáveis que remuneram a produção e comercialização dos produtos oferecidos ao mercado.
 
Passo 4: Análise de custos, preços e ofertas dos concorrentes: Entender quem são os concorrentes, qual o público alvo escolhido e qual o posicionamento dos produtos é fundamental para o aproveitamento das oportunidades de mercado. No caso particular do varejo, vemos uma infinidade de supermercados, posicionando-se como preço, como qualidade, como exclusividade. Um posicionamento incorreto pode aumentar a competição e impactar o negócio da empresa.
 
Passo 5: Seleção de um método de determinação de preço: i) Mark-up; ii) Retorno-alvo; iii) Valor percebido; iv) Com base no valor; v) Preços de mercado. Cada empresa definirá um método dependendo do público-alvo e do posicionamento escolhido. Porém, para alguns produtos, estabelece-se um objetivo de retorno-alvo, para dar flexibilidade nas negociações e promoções. Para produtos especiais, o valor percebido predomina, suportando preços mais elevados. Outra vez, o importante é que esta escolha seja coerente com as outras ações do marketing mix. Imagine uma loja que venda produtos exclusivos, que trabalhe com a proposta de valor percebido, mas que em suas campanhas promocionais tenha como mensagem “preço baixo por respeito ao consumidor”. Provavelmente, o valor será corroído pela concorrência que fará baixar o preço, consumindo parte dos ganhos que poderiam advir da proposta de valor ou de diferenciação.
 
Passo 6: Seleção do preço final: i) Influência do marketing mix; ii) Políticas de determinação de preços da empresa; iii) Determinação de preços por compartilhamento de ganhos e riscos. A preocupação com preços é percebida tanto em mercados B2C como B2B, relacionados a produtos, serviços.  No caso de serviços, os passos anteriores também são aplicáveis, mas a empresa vai necessitar buscar elementos de “tangibilização” para poder ligar o preço ao serviço. Por exemplo, um consultório bem equipado, com instalações modernas vai levar o consumidor a ter uma experiência positiva e criar a crença de que este médico é um profissional de sucesso e que, portanto, vale o preço alto que cobra. Você não questiona a competência, porque não teria elementos para tal. Através de alguns aspectos, você chega a conclusões pessoais que fazem com que você aceite ou não o preço proposto pela empresa. O erro na tratativa do estabelecimento correto do preço sem o devido alinhamento com os outros compostos de marketing poderá colocar a sobrevivência do negócio em sérias dificuldades. Adicionalmente, ressalta-se a importância da consideração do afeto, cognição, comportamento e ambiente na definição da segmentação e definição do público alvo como passo anterior à definição da melhor estratégia para o alcance destes consumidores por meio de ações de marketing mix efetivas. O preço a ser estabelecido não deve levar em conta somente a componente da empresa, pois o consumidor também avalia seus custos, que muitas vezes não são facilmente mensuráveis, mas que, definitivamente, afetam a relação de troca.
 
            O consumidor já não é tão racional como prega a economia e bem mais complexo, dificultando o trabalho de identificação de público-alvo e as ações para alcaçá-lo.
 
Boa semana.
 
Moacyr Ferreira

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário