O Brasil vive, nos dias atuais, uma discussão sobre o nível inflacionário, um “dragão” que nos assombra a décadas, que acreditávamos estar dormente, mas que parece dar sinais de retomada. Nosso governo, já há algum tempo, adota o regime de meta inflacionária. Ou seja, existe uma meta de 4,5% esperada para o ano, onde os agentes ajustam suas expectativas inflacionárias, tendo, em contrapartida, uma atuação forte do governo para tornar esta meta confiável. De outra forma, cada agente faria sua leitura sobre expectativa inflacionária e isto provocaria uma desordem no cenário econômico. O regime de metas de inflação possui uma faixa de tolerância para permitir certa flexibilidade de utilização de outras ferramentas de política fiscal e monetária orientadas à gestão governamental.
Porém, a discussão do momento é sobre a capacidade do governo de manter a inflação, pelo menos, abaixo do teto de 6,5% a.a. O tema não é simples, e haverá outros que argumentarão em uma linha diferente da que adotarei, defendendo questões até mesmo sociais. Cada um pode ter sua linha de discussão e o debate é válido. O que não pode é ficar no “achismo”, pois não muito.
Muitos dirão que a inflação subiu por problemas sazonais, tais como o pobre tomate que de salvador da pizza passou a vilão público. A grande conclusão é que existe um excesso de demanda. Ou seja, tem mais gente consumindo do que ofertando. O maior problema disto é que se dermos uma investigada no balanço de pagamentos (www.fazenda.gov.br) veremos, para os últimos trimestres: i) um consumo relacionado com bens de capital muito inferior ao consumo das famílias (ou seja, estamos consumindo muitos bens não duráveis e comprando menos máquinas e equipamentos para melhorar a capacidade produtiva); ii) um aumento de pessoal empregado, principalmente em indústrias como construção civil (leva a crer que são posições mais operacionais); iii) um aumento de renda do trabalhador (mais gente podendo gastar mais); iv) uma diminuição da produtividade (Produção dividido por pessoal ocupado); v) uma inflação em 6,59% a.a. (acumulado de 12 meses).
De todos os pecados passíveis de serem cometidos em um processo eleitoral, como o que teremos em 2014, relacionado com eleições presidenciais, o aumento de inflação poderia ser denominado o pecado capital. A volta de inflação representa um dos impostos mais perversos, sobretudo para as classes baixas. É corrosão direta de renda! Isto, convertido para a linguagem eleitoral, não ganha voto, coisa que o governo atual nem quer pensar, para poder manter-se no governo.
O governo encontra-se em um dilema. Por um lado, estimular a economia com taxas de juros reais menores, evitando a especulação financeira com promoção de aumento da produção. Por outro, controlar o aumento da inflação, medida que terá efeito com o aumento das taxas de juros. O problema é que o aumento das taxas de juros podem desestimular a indústria e provocar desemprego, outro pecado eleitoral para um governo que deseja se manter no poder. Qual a saída encontrada neste momento? Dar um telefonema para um governador aqui, um empresário ali, pra ver se dá pra adiar um aumento de passagem de ônibus, um aumento de tarifa de energia, em troca de um subsídio ou outra compensação fiscal. É o chamado micro gerenciamento da inflação, que não pode durar por muito tempo, do ponto de vista de um controle mais efetivo da inflação. Claramente, este mecanismo não se sustenta.
Com as eleições de 2014, o cenário que se apresenta é o de controle da inflação, a qualquer preço, segurando o Banco Central (entidade “autônoma”) para não subir a taxa de juros da Selic a valores tão altos a ponto de desestimular a economia. Ou seja, muito provavelmente, até começo de 2015 não vai mudar muito o cenário atual e o crescimento que vier, tenderá a ser mais espasmo que crescimento de fato. Ainda vamos conviver com o chamado “Pibinho”, apesar de já vermos outras economias dando sinais de retomada, pós crise de 2008 (hipotecas americanas). Em 2015, talvez, comece um processo de reorganização. Uma espécie de “arrumada na cozinha”, ainda que tenha um potencial aumento de desemprego, até que, esperançosamente, voltemos a crescer consistentemente.
O país precisa crescer, mas com bases sólidas e sustentáveis!
Durante as últimas décadas, as empresas compraram maquinário e melhoraram sua capacidade produtiva, inclusive com a migração da população do campo para as cidades. Atingida um determinado nível de produtividade, daí pra frente, não será mais maquinas ou pessoal pouco preparado para operar as máquinas que vão fazer nossa economia desenvolver. A China já nos ensinou isto.
O mercado tende a ficar cada vez mais competitivo e as empresas precisarão seguir esta tendência, se quiserem constar da lista de empresas existentes nos próximos 20 anos.
Não é somente alocando recursos
do pré-sal para educação que vamos resolver os problemas de formação de mão de
obra qualificada. É preciso repensar o sistema de
gestão educacional e preparação dos profissionais, focado em produtividade
baseada em tecnologia, conhecimento e, principalmente, inovação. É fazer mais e
melhor do que os outros, as mesmas coisas, de maneira diferente.
Ainda que haja um nível de
desemprego aceitável e muitas empresas possam pensar em um excesso de mão de
obra disponível e barata, o problema é que haverá excesso de mão de obra pouco
preparada para os novos desafios que se apresentam para as próximas décadas.
O país tem chances de crescer, tem
potencial. As empresas terão espaço para crescer, mas, de onde virão os
talentos? Dos recursos já existentes? Isto será possível para sustentar o
crescimento nos diversos níveis organizacionais?
Este é o desafio para
as empresas: reter e formar novos talentos!
A empresa que não retiver
talentos vai perdê-los para seus concorrentes ou novos entrantes no mercado,
tendo cada vez mais dificuldade para inovar. Vai ser mais uma no mercado.
Se não bastasse o desafio citado anteriormente,
as empresas terão que formar seus novos talentos, pois dificilmente o sistema
educacional será capaz de gerar mão de obra com o grau de qualificação que se
espera. Não é só falar uma ou duas línguas ou dominar uma ou outra ferramenta. É ter um olhar diferente e inovador sobre o que se faz hoje,
descobrindo novas formas de fazer mais e melhor que os competidores, com
resultados superiores aos deles.
Pensar nos talentos das empresas
não é uma questão de gestão de recursos humanos. É uma questão de sobrevivência
das organizações para as próximas décadas. Quem não
pensar assim, talvez, além do problema do apagão de talentos, vai ter que
pensar no problema de quem vai apagar a luz da empresa e fechar as portas.
Boa
semana.
Moacyr
Ferreira