domingo, 11 de novembro de 2012

A formação das Alianças Estratégicas

A formação das Alianças Estratégicas: Por que isto se tornou tão importante nas últimas décadas? É realmente relevante pensar nas alianças sob a perspectiva estratégica? Não seria suficiente pensá-las apenas como arranjos comerciais? Sua empresa, sozinha, consegue trabalhar a eficácia e a eficiência controlando todos os recursos e etapas de forma independente, sem a necessidade de cooperação de outras empresas.

O aparecimento das alianças não é algo tão novo assim. Surgiu depois das duas grandes guerras, principalmente nos anos 1950 e 1960. A grande diferença para a tratativa das alianças no período atual é o fato de que as empresas buscam juntar-se em grupos para atender seus propósitos estratégicos, de forma colaborativa e única, para permitir a criação da tão falada vantagem competitiva. Antes, as empresas se juntavam por razões específicas, relacionadas ao negócio, mas sem a preocupação estratégica do ponto de vista de sustentabilidade de uma vantagem criada na relação. Uma coisa é a empresa vir para o país, explorar o custo baixo de mão de obra, pensar apenas na remessa de lucros ou exportação. Outra coisa é ir para um país, aproveitar o mercado interno com compromisso de longo prazo, sujeitas a um ambiente dinâmico e competitivo. Sem uma visão de longo prazo, o investimento pode ser arriscado e a experiência negativa.

Em um cenário de abertura de oportunidades, após a intensificação da globalização nos anos 1980, o acesso a recursos (humanos, físicos, capital) também ficou mais disponível, fazendo com que as empresas refletissem sobre a intenção de captura de mercados fora de sua localização de origem, com o desenvolvimento e utilização das competências necessárias para tanto impulsionar o alcance das oportunidades, como para reduzir as ameaças do ambiente macro. Pensemos em uma indústria de computadores, com alcance global. Faria sentido pensar apenas no mercado interno? Mas, como alcançar este mercado globalizado de forma mais eficiente? O exemplo mais clássico é o de uso de mão de obra barata em países emergentes, como no caso da China e India. Quando falo das competências, me refiro ao fato de que elas podem ser intrínsecas à organização, e disponíveis para utilização em novos mercados, ou adquiridas através de compras destas competências através de outras empresas e parcerias, sendo que a criação de uma vantagem competitiva resultaria da combinação adequada dos recursos.

É neste sentido que surge o conceito de alianças, como uma ação intencional e voluntária entre duas ou mais partes no sentido de buscar a melhor configuração de recursos capazes de obter benefícios diferenciados em um mercado competitivo, frente a seus rivais, capaz de criar uma vantagem competitiva, não mais isoladamente, porém através de um arranjo entre empresas com complementaridade de competências (Gulati, 1998). Segundo Doz and Hamel (1998), a formação das alianças tornou-se um elemento fundamental para a competitividade em ambiente globalizado, facilitadas pelo alto grau de informatização e transformação nas regras de mercados e indústrias, como, por exemplo, as desregulamentações e flexibilizações fiscais e legais.

Ainda que este processo possa ser entendido como uma ação voluntária entre as partes, ela não deixa de trazer incertezas sobre a maneira de se operacionalizar tais competências sem que as partes não se sintam demasiadamente expostas, a ponto de reduzir o aspecto de colaboração. A maneira como esta aliança é composta dependerá de fatores relacionados à experiência entre as partes com este tipo de arranjo, bem como outros elementos relacionados com a identificação e cooperação entre as partes. O processo de coordenação de tarefas e decisões conjuntas definirá a forma como estas empresas tratarão o aspecto de governança, tendo um grau maior ou menor de hierarquização, dependendo da natureza da aliança e de aspectos de colaboração e confiança existente entre as partes. A falta de uma tratativa adequada quanto ao aspecto de formação da aliança provocará instabilidades na relação, que influenciarão diretamente a forma como esta empresa irá atuar, podendo tanto permitir a formação de uma vantagem competitiva quanto expor deficiências ainda maiores do que quando atuavam separadamente, reduzindo seu posicionamento competitivo, frente a seus competidores. A Aliança poderá tanto evoluir, através de um processo adaptativo entre as partes, e poderá, inclusive, influenciar o ambiente macro, mas exigirá um bom alinhamento estratégico entre as partes, para que este efeito seja favorável à sobrevivência das empresas pertencentes à aliança estabelecida. Sem entregar sua idade, quem puder lembrar da “Auto-Latina”, uma aliança entre Ford e Volkswagen, vai entender o que digo sobre desafios em gerenciar a parceria e resultados alcançados.

Adicionalmente, a formação de uma aliança pode trazer um aspecto de interdependência que, muitas vezes, poderá limitar sua flexibilidade de movimentação no mercado, de forma autônoma, pois tais relações poderão criar vínculos que não podem ser desfeitos de maneira simples. Uma vez estabelecida a parceria a saída pode ser mais custosa do que a manutenção. Quantas alianças trazem em seu íntimo o desejo de desfazer a parceria, mas ficam limitadas por todo o investimento feito e não recuperado e por todo o custo de saída.

Doz and Hamel (1998), listam três possíveis formas de compor-se uma aliança estratégica: 1) Co-option, transformando potenciais competidores em fornecedores de bens e serviços complementares, criando-se novas competências necessárias para os novos negócios a serem desenvolvidos; 2) Co-specialization, onde cada parte, com suas competências distintivas, contribuem de forma sinérgica para a criação de valor; 3) Learning and Internalization, com o desenvolvimento de competências a partir da formação da aliança. A forma como a aliança será desenvolvida vai dizer muito sobre a forma como ela será gerenciada e com o progresso. Os propósitos que levam as empresas a buscar uma configuração em aliança variam. Dependendo das oportunidades oferecidas pelo ambiente macro, em uma dimensão globalizada, as empresas vão buscar as competências necessárias para obter a vantagem competitiva.

Segundo Goerzen (2005), uma empresa pode estar interessada na formação de uma aliança para: 1) reduzir custos operacionais, através de ganhos de escala ou melhorias de processos e utilização de recursos, impactando, diretamente, a eficiência operacional; 2) melhoria do posicionamento competitivo, através do desenvolvimento de competências que lhe permitam tal posicionamento vantajoso; 3) melhoria do processo de absorção de conhecimento, para ser utilizado na criação da vantagem competitiva.

A forma como será feita a composição da aliança, em função dos propósitos buscados pela empresa e das condições para que estas empresas venham a compor a aliança, vai determinar o grau de hierarquização e dos mecanismos de governança e a possibilidade de sucesso desta parceria, uma vez que nem toda parceria obtém o sucesso desejado. A formação de uma aliança inicia-se antes da sua formação, na fase de busca da melhor alternativa do parceiro, seguida de um bom projeto que permitirá o controle e administração adequado a esta parceria. Por fim, esta governança estabelecida deve mostrar-se efetiva após o estabelecimento da parceria, para permitir a possibilidade da criação da vantagem competitiva.

Um aspecto fundamental na composição da aliança é o aspecto estratégico que esta aliança terá, não mais composto pela estratégia individual de cada empresa, mas pelas competências criadas por esta nova formação no sentido de aproveitar as oportunidades e atenuar ameaças, com base nas competências formadas pela aliança, no sentido de buscar a obtenção da vantagem competitiva, agora segundo uma visão relacional da estratégia. Quando uma empresa como a Nokia busca uma parceria com a Microsoft, a estratégia para a aliança tem um propósito independente da estratégia proposta por cada uma das empresas individualmente. A aliança tem seus objetivos específicos e merece a atenção dedicada no gerenciamento para o alcance destes objetivos.

Falamos sobre o aspecto da formação das alianças estratégicas, mas o que quer dizer exatamente o conceito de “estratégia”, em que âmbito ela deve ser aplicada e quais suas implicações. Isto, veremos no próximo post.

Bom fim de semana.

Moacyr Ferreira

 

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