A formação das
Alianças Estratégicas: Por que isto se tornou tão importante nas últimas
décadas? É realmente relevante pensar nas alianças sob a perspectiva
estratégica? Não seria suficiente pensá-las apenas
como arranjos comerciais? Sua empresa, sozinha, consegue trabalhar a eficácia e
a eficiência controlando todos os recursos e etapas de forma independente, sem
a necessidade de cooperação de outras empresas.
O aparecimento das alianças não é
algo tão novo assim. Surgiu depois das duas grandes guerras, principalmente nos
anos 1950 e 1960. A grande diferença para a tratativa
das alianças no período atual é o fato de que as empresas buscam juntar-se em
grupos para atender seus propósitos estratégicos, de forma colaborativa e
única, para permitir a criação da tão falada vantagem competitiva. Antes,
as empresas se juntavam por razões específicas, relacionadas ao negócio, mas
sem a preocupação estratégica do ponto de vista de sustentabilidade de uma
vantagem criada na relação. Uma coisa é a empresa vir para o país, explorar o
custo baixo de mão de obra, pensar apenas na remessa de lucros ou exportação.
Outra coisa é ir para um país, aproveitar o mercado interno com compromisso de
longo prazo, sujeitas a um ambiente dinâmico e competitivo. Sem uma visão de
longo prazo, o investimento pode ser arriscado e a experiência negativa.
Em um cenário de abertura de
oportunidades, após a intensificação da globalização nos anos 1980, o acesso a
recursos (humanos, físicos, capital) também ficou mais disponível, fazendo com
que as empresas refletissem sobre a intenção de captura de mercados fora de sua
localização de origem, com o desenvolvimento e utilização das competências
necessárias para tanto impulsionar o alcance das oportunidades, como para
reduzir as ameaças do ambiente macro. Pensemos em uma indústria de
computadores, com alcance global. Faria sentido pensar apenas no mercado
interno? Mas, como alcançar este mercado globalizado de forma mais eficiente? O
exemplo mais clássico é o de uso de mão de obra barata em países emergentes,
como no caso da China e India. Quando falo das competências, me refiro ao fato
de que elas podem ser intrínsecas à organização, e disponíveis para utilização
em novos mercados, ou adquiridas através de compras destas competências através
de outras empresas e parcerias, sendo que a criação de uma vantagem competitiva
resultaria da combinação adequada dos recursos.
É neste sentido que
surge o conceito de alianças, como uma ação intencional e voluntária entre duas
ou mais partes no sentido de buscar a melhor configuração de recursos capazes
de obter benefícios diferenciados em um mercado competitivo, frente a seus
rivais, capaz de criar uma vantagem competitiva, não mais isoladamente, porém
através de um arranjo entre empresas com complementaridade de competências
(Gulati, 1998). Segundo Doz and
Hamel (1998), a formação das alianças tornou-se um elemento fundamental para a
competitividade em ambiente globalizado, facilitadas pelo alto grau de
informatização e transformação nas regras de mercados e indústrias, como, por
exemplo, as desregulamentações e flexibilizações fiscais e legais.
Ainda que este processo possa ser
entendido como uma ação voluntária entre as partes, ela não deixa de trazer
incertezas sobre a maneira de se operacionalizar tais competências sem que as
partes não se sintam demasiadamente expostas, a ponto de reduzir o aspecto de
colaboração. A maneira como esta aliança é composta dependerá de fatores
relacionados à experiência entre as partes com este tipo de arranjo, bem como
outros elementos relacionados com a identificação e cooperação entre as partes.
O processo de coordenação de tarefas e decisões conjuntas definirá a forma como
estas empresas tratarão o aspecto de governança, tendo um grau maior ou menor
de hierarquização, dependendo da natureza da aliança e de aspectos de
colaboração e confiança existente entre as partes. A falta de uma tratativa
adequada quanto ao aspecto de formação da aliança provocará instabilidades na
relação, que influenciarão diretamente a forma como esta empresa irá atuar,
podendo tanto permitir a formação de uma vantagem competitiva quanto expor
deficiências ainda maiores do que quando atuavam separadamente, reduzindo seu
posicionamento competitivo, frente a seus competidores. A Aliança poderá tanto
evoluir, através de um processo adaptativo entre as partes, e poderá,
inclusive, influenciar o ambiente macro, mas exigirá um bom alinhamento
estratégico entre as partes, para que este efeito seja favorável à
sobrevivência das empresas pertencentes à aliança estabelecida. Sem entregar sua
idade, quem puder lembrar da “Auto-Latina”, uma aliança entre Ford e
Volkswagen, vai entender o que digo sobre desafios em gerenciar a parceria e
resultados alcançados.
Adicionalmente, a
formação de uma aliança pode trazer um aspecto de interdependência que, muitas
vezes, poderá limitar sua flexibilidade de movimentação no mercado, de forma
autônoma, pois tais relações poderão criar vínculos que não podem ser desfeitos
de maneira simples. Uma vez estabelecida
a parceria a saída pode ser mais custosa do que a manutenção. Quantas alianças
trazem em seu íntimo o desejo de desfazer a parceria, mas ficam limitadas por
todo o investimento feito e não recuperado e por todo o custo de saída.
Doz and Hamel (1998), listam três
possíveis formas de compor-se uma aliança estratégica: 1) Co-option,
transformando potenciais competidores em fornecedores de bens e serviços
complementares, criando-se novas competências necessárias para os novos
negócios a serem desenvolvidos; 2) Co-specialization, onde cada parte, com suas
competências distintivas, contribuem de forma sinérgica para a criação de
valor; 3) Learning and Internalization, com o desenvolvimento de competências a
partir da formação da aliança. A forma como a aliança será desenvolvida vai
dizer muito sobre a forma como ela será gerenciada e com o progresso. Os
propósitos que levam as empresas a buscar uma configuração em aliança variam. Dependendo
das oportunidades oferecidas pelo ambiente macro, em uma dimensão globalizada,
as empresas vão buscar as competências necessárias para obter a vantagem
competitiva.
Segundo Goerzen (2005), uma
empresa pode estar interessada na formação de uma aliança para: 1) reduzir
custos operacionais, através de ganhos de escala ou melhorias de processos e
utilização de recursos, impactando, diretamente, a eficiência operacional; 2)
melhoria do posicionamento competitivo, através do desenvolvimento de
competências que lhe permitam tal posicionamento vantajoso; 3) melhoria do
processo de absorção de conhecimento, para ser utilizado na criação da vantagem
competitiva.
A forma como será feita a
composição da aliança, em função dos propósitos buscados pela empresa e das
condições para que estas empresas venham a compor a aliança, vai determinar o
grau de hierarquização e dos mecanismos de governança e a possibilidade de
sucesso desta parceria, uma vez que nem toda parceria obtém o sucesso desejado.
A formação de uma aliança inicia-se antes da sua formação, na fase de busca da
melhor alternativa do parceiro, seguida de um bom projeto que permitirá o
controle e administração adequado a esta parceria. Por fim, esta governança
estabelecida deve mostrar-se efetiva após o estabelecimento da parceria, para
permitir a possibilidade da criação da vantagem competitiva.
Um aspecto fundamental
na composição da aliança é o aspecto estratégico que esta aliança terá, não
mais composto pela estratégia individual de cada empresa, mas pelas
competências criadas por esta nova formação no sentido de aproveitar as
oportunidades e atenuar ameaças, com base nas competências formadas pela
aliança, no sentido de buscar a obtenção da vantagem competitiva, agora segundo
uma visão relacional da estratégia. Quando uma empresa como a Nokia busca uma
parceria com a Microsoft, a estratégia para a aliança tem um propósito
independente da estratégia proposta por cada uma das empresas individualmente.
A aliança tem seus objetivos específicos e merece a atenção dedicada no
gerenciamento para o alcance destes objetivos.
Falamos sobre o aspecto da
formação das alianças estratégicas, mas o que quer dizer exatamente o conceito
de “estratégia”, em que âmbito ela deve ser aplicada e quais suas implicações.
Isto, veremos no próximo post.
Bom fim de semana.
Moacyr Ferreira
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