Depois de um breve período de recesso (mini-férias), voltamos com o blog. Há algum tempo queria escrever algo sobre a parte financeira, sobretudo temas onde tenho grandes questionamentos relacionados com gestão estratégica. Decidi, então, iniciar pelo básico, até chegar ao ponto central da questão sobre o aprisionamento nos números dos objetivos financeiros e a miopia de negócio que eles podem trazer.
O mundo financeiro não é dos mais fáceis. Ele possui uma linguagem própria, que se você não estiver minimamente educado para entender, ficará à parte das discussões e processos decisórios. A história começa com os chamados relatórios financeiros, onde os mais conhecidos e importantes são o Balanço, o Demonstrativo de Resultados do Exercício e o Demonstração do Fluxo de Caixa. Juntam-se a “esta turminha”, outros relatórios que possuem aplicações e interesses específicos. Estes relatórios seguem rígidas regras de apresentação e são validados por auditorias, atestando a veracidade dos números. O principal objetivo destes relatórios é dar transparência ao mercado sobre o que está acontecendo dentro da organização, traduzido em números. Uma variação destes relatórios são os chamados Relatórios Gerenciais, que, em embora sigam a mesma estruturação contábil, têm uma aplicação mais interna, para suportar decisões de negócio, ligados à operação da organização.
O mais importante destes relatórios é o Balanço Patrimonial, conhecido por sua divisão entre Ativos e Passivos. No lado do passivo, temos a informação da origem dos investimentos, ou seja, como é estruturada a divisão de investimentos. O nome passivo se refere a uma obrigação de restituição do capital injetado na organização, para financiar as operações da organização, quer seja ele para instituições financeiras (Passivo) quer seja para os sócios (Patrimônio Líquido). Do lado dos ativos, vemos onde são aplicados os investimentos, que podem ser distribuídos em itens diretamente ou indiretamente relacionado com a operação, sejam eles fixos ou variáveis. É do balanço que se extraem as informações que formaram os diversos índices de desempenho que fazem parte do mundo financeiro.
Também importante, é o Demonstrativo de Resultados do Exercício, que vai apontar para as avaliações sobre lucratividade. É aqui, onde algumas corporações escorregam quanto ao gerenciamento dos resultados.
Um primeiro potencial equívoco está relacionado com a avaliação de desempenho baseada unicamente no nível de vendas. Claro que é importante manter um bom nível de vendas, preferencialmente crescente, pois indicará um progresso da organização. Porém, ter uma receita, ainda que crescente, não é suficiente para dizer que uma empresa esta indo bem, porque os custos e despesas associados à organização podem vir a consumir esta receita, deixando, ao final, um resultado negativo não esperado pelos acionistas.
Um segundo potencial equívoco é pensar na margem bruta como um indicador forte de desempenho. Não que ele não tenha sua importância, mas este indicador leva em conta apenas os custos (relacionados com a produção) retirados das vendas. Fica faltando a parte de despesas (não diretamente ligado à operação). Quando retirado este valor da margem bruta, chegamos ao resultado operacional. Quando chegamos neste ponto, aí sim, poderemos dizer algo sobre o desempenho da empresa, do ponto de vista operacional.
O problema não está na expectativa sobre os resultados, mas a maneira como a organização interage com estes números, perseguindo e cobrando resultados sem suportar o alcance dos mesmos sem um plano mais concreto de como atingi-los, de maneira realizável e sustentável.
Recentemente, estive envolvido na elaboração de um plano de negócios de contas, explorando oportunidades, entendendo como estas oportunidades ajudam no alcance da meta e o mapeamento de riscos que poderiam evitar este alcance, para, então, tomar-se ações concretas, tendo a sensibilidade do negócio e não apenas olhando os números, cobrando-se alcance de metas como se fosse um exercício financeiro, porque não o é! O exercício financeiro virá como conseqüência do plano elaborado e da disciplina em sua execução. Ainda que os números venham, não havendo um plano, o questionamento que ficará é: quão sustentável é o alcance das metas? Temos alternativas para recuperar os desvios? Vamos voltar a ter o mesmo problema no futuro? Como ficamos em termos de compromissos para o futuro?
Um ponto importante para se refletir: Não basta analisar como estão sendo feitos os investimentos, mas é importante averiguar como estes investimentos estão alinhados com a estratégia da empresa, para que não se tenha a ilusão de números e índices financeiros do presente, tragam resultados ruins e insustentáveis no futuro.
Por trás dos números, existe uma organização, formada por materiais, equipamentos, sistemas, ferramentas, prédios e, sobretudo, pessoas. Olhar para os números e fazer uma interpretação financeira, descolada da realidade, pode ser apenas “o começo do fim da organização”.
Abs
Moacyr Ferreira