segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Big Data: Jogo pra gente grande

            O conceito do Big Data tem ganhado força no mercado. Chamo de um conceito, pois ainda há muita confusão acerca do tema, às vezes, tentando referenciá-lo a uma solução, a um produto ou a um software. Este post vai abordar o tópico tentando trazer uma luz sobre o que é e o que pode fazer este conceito para as empresas e seus negócios.
 
            Houve uma época onde a oferta era muito superior à demanda e o que as empresas se preocupavam era simplesmente produzir e lançar os produtos para serem consumidos no mercado (Ex.: O famoso Ford T de Henry Ford). O tempo passou e a demanda, em um determinado momento, superou a oferta, fazendo com as empresas passassem a preocupar-se em encontrar compradores, por meio de esforços de venda. Um pouco mais adiante, o esforço já não podia limitar-se somente à componente de preço e o marketing ganhou força na identificação de segmentos e adequação dos compostos de marketing (4 P’s) para o atendimento das necessidades e desejos destes consumidores segmentados. Um pouco mais recentemente, assistimos a marcha para a “customização em massa”, buscando o atendimento das necessidades o mais próximo possível do indivíduo, com adequações aos gostos individuais dos mesmos compostos de marketing (Ex.: Smartphones e seus aplicativos via software).
           
            A dinâmica de mercado exigiu, exige e sempre exigirá um esforço adicional das empresas na busca de uma vantagem competitiva que as mantenham, primeiramente, vivas, e, esperançosamente, líderes, pelo tempo em que isto for possível. Mas como conseguir isto equacionando adequadamente investimento e retorno?
 
            Embora a resposta não seja simples, uma tendência que tem aparecido com força é a da identificação de comportamentos e atitudes dos consumidores para o oferecimento de algo que estes enxerguem valor e convertam sua intenção de compra em comportamento de compra, de onde as empresas poderão extrair maiores lucros. Ao contrário da customização em massa, que atende aos desejos da demanda existentes, esta nova tendência poderá criar novas demandas, por meio de mecanismos que motivem consumidores a consumir produtos novos, explorados a partir das pistas sugeridas pelos consumidores.
 
            Mas como descobrir isto em um mar de informações a que as empresas estão sujeitas? A resposta surge justamente aí: Mergulhar neste mar de dados, extrair informações e ganhar conhecimentos que aportem valor na criação de segmentos de consumidores dispostos a consumir e pagar mais por algo que vá diretamente ao encontro de suas necessidades e desejos latentes.
 
            Alguém poderia questionar se isto já não é o que o CRM se propõe a fazer e estaria correto neste questionamento. Mas, e quando a quantidade de dados que circula é de uma dimensão absurda, tal como cerca de 2 bilhões de pessoas conectadas à internet, sendo que, por minuto, estes usuários, juntos, são capazes de enviar 200 milhões de emails, 2 milhões de pesquisas no Google, compras da ordem de 200 mil dólares, 27 mil novos posts em blogs, mais de 500 novos sites criados, para citar alguns números levantados pela new.investors.com? Isto sem contar as centenas de milhões de transações comerciais entre empresas.
 
            Para lidar com esta infinidade de dados (estruturados e não estruturados) surge o conceito do Big Data, baseado em: velocidade (geração de dados); volume (armazenamento de dados); variedade (tipos de informações geradas); veracidade (dados reais); valor (o quanto agrega). Na prática, a tecnologia permite analisar qualquer tipo de informação digital em tempo real, sendo fundamental para a tomada de decisões das empresas por meio de muita e profunda matemática, algoritmos e teorias para o correto tratamento desses dados todos.
 
            É importante, que nesta altura, deixemos bem claro que Big Data não é o mesmo que Data Warehouse. Enquanto o Data Warehouse trata da criação de um subconjunto limpo de dados para colocá-los numa “data warehouse” para serem consultados a partir de um número limitado de formas pré-determinadas, o Big Data recolhe “todos” os dados que uma organização gera e permite que os administradores e analistas se preocupem em como usá-los mais tarde.
 
            Para o marketing, o entendimento desta evolução tecnológica é fundamental, pois os dados estão vindo dos seus clientes e prospectos numa velocidade incrível. Todos estes dados crus podem conduzir a insights valiosos sobre quais tipos de conteúdo e quais tópicos são os mais importantes para a sua audiência alvo.
 
           O processo de decisão de compra dos consumidores trata das influências sociais, de marketing e situacionais sobre o comportamento de compra do consumidor. O Big Data permite atuar, justamente, na identificação dos elementos que, de fato, podem influenciar esta decisão a seu favor.
 
           Um exemplo simples para ilustrar a força do Big Data são empresas varejistas que controlam as combinações de produtos que seus clientes põem no carrinho, para descobrir insights sobre o comportamento de compra, tais como o que compram os consumidores, qual a relação de um produto comprado com outros que poderiam ser reforçados através dos compostos de marketing, etc. Ou seja, uma análise profunda no meio de uma montanha de dados para descobrir coisas que possam melhorar o negócio da empresa.
 
           Mas nem tudo é tão simples assim. Alguns problemas relacionados são:
            - Privacidade: Vai dizer que você nunca foi surpreendido com um anúncio em seu email sobre algo que você andou pesquisando na Internet? Vai dizer que você nunca se fez a pergunta: Nossa, como este anúncio relacionado com o produto que me interessa veio parar aqui, neste momento, sem eu ter enviado ou me inscrito em nenhuma lista para receber esta informação? O mundo e a legislação atual não estão preparados para as possibilidades que o Big Data oferece de agregar e tirar conclusões de dados até então esparsos nas várias fontes individuais e privadas;
            - Mão de Obra: Vai faltar, cada vez mais, mão de obra especializada para tratar estes dados. Não é coisa pra qualquer um. É coisa pra profissional que trabalha com Analytics, com Data Mining e você não encontra um “camarada” destes “de bobeira” em qualquer esquina;
            - Volume de dados: Estamos falando de uma quantidade absurda de dados. Os sistemas tradicionais atuais não estão preparados para tratar certas coleções de dados que já temos ou vamos obter nos próximos anos. A previsão é que passaremos da faixa de muitos gigabytes (bilhões de bytes) ou poucos terabytes (trilhões) para a faixa de petabytes (milhares de trilhões) ou até mesmo exabytes (milhões de trilhões); 
            - Velocidade: Significa que esses dados são enviados aos nossos sistemas com uma taxa de bytes por intervalo de tempo muito alta, tão grande que não temos como armazená-los todos. Assim, muitas vezes, somos obrigados a escolher dados para guardar e outros para descartar. Para armazenar aqueles 15 petabytes por ano, o “cern” escolhe dados relevantes entre 15 petabytes gerados por segundo de operação do LHC. Como saber o que guardar e guardar cada vez mais rápido é o desafio;
          - Veracidade: Nossos sistemas tradicionais são otimizados para processar dados que podem ser facilmente descritos na forma de tabelas, como uma planilha eletrônica, onde cada coluna tem tamanho constante ou previsível, mesmo que a quantidade de linhas seja muito grande. Entretanto, muitos dos novos tipos de dados têm formatos mais livres (textos, imagens etc.) ou com estruturas específicas (redes, por exemplo).
           Em 2011, o filme MoneyBall, com Brad Pitt, mostrou como um profissional que não era totalmente envolvido com o mundo do beisebol, ajudou uma equipe a escolher os jogadores mais adequados para a formação de um time que se tornou vitorioso, por meio da pesquisa e identificação a partir de uma montanha de dados estatísticos disponíveis sobre jogadores pertencentes à liga.
            Superadas estas dificuldades:
- O Big Data poderá criar valor por meio da utilização das informações disponíveis;
- Da mesma forma como as organizações coletam dados transacionais, na forma digital, elas deverão capturar informações mais detalhadas e precisas ao longo da cadeia de valor da empresa;
 - O Big Data permitirá uma segmentação mais focada em clientes mais orientados para os produtos da empresa, permitindo atendimento de desejos e necessidades mais próximos do interesse destes consumidores;
- Análises sofisticadas podem aumentar significativamente o processo de decisão, redução de riscos e captura de insights que eventualmente estão encobertos;
- O Big Data pode ser usado para desenvolver a próxima geração de produtos e serviços.
O Big Data é muito importante para ser desconhecido, mas muito complexo para ser facilmente entendido e utilizado. Por isto, quem souber dominar este conceito, seguramente, vai sair na frente na difícil arte de sobreviver no mundo dos negócios.
Boa semana.
Moacyr Ferreira