Estamos na era da internet, onde
o tempo é essencial. As pessoas tem sede de
informação, mas pouco tempo. Com isto, proliferam as chamadas receitas de
sucesso, baseadas em números cabalísticos (“As 10 regras mágicas de
sucesso para você se tornar um isso ou aquilo” ou “7 coisas que você deve fazer
para ter sucesso” ou “Os 5 passos para ficar rico”). Algumas são até curiosamente
interessantes. O problema é quando estas regras
substituem sua capacidade de pensar e agir. Ninguém poderá substituir sua
capacidade de criar e inovar e, isto, no final, é o que vai importar para seu
sucesso no mundo dos negócios e, até mesmo, em sua vida pessoal.
Tive acesso a bibliografia de Jay
B. Barney (Gaining and Sustaining Competitive Advantage), onde o autor descreve
aspectos relacionados com estratégias adotadas por empresas. O livro fornece
elementos para compreender como uma empresa pode ser capaz de identificar
elementos dentro e fora dela para permitir a criação de uma vantagem
competitiva frente a seus rivais, apesar de todas as incertezas do macro
ambiente.
O que isto tem a ver
com carreira profissional?
Em uma determinada altura, no capítulo
5 o autor apresenta uma maneira estruturada de análise de forças e fraquezas
internas de uma empresa. Este é o chamado framework VRIO. Fiquei pensando,
então, em como isto poderia ser transportado para o desenvolvimento profissional,
usando o framework para identificar
os elementos de sucesso para uma carreira.
O framework está, basicamente, estruturado em quatro
questões:
- A questão sobre o valor do recurso;
- A questão sobre quão raro é este recurso e seu valor
gerado;
- A questão sobre quão facilmente este recurso pode
ser copiado, diminuindo seu valor;
- A questão sobre a adequação do uso deste recurso na
organização.
No caso do mundo profissional,
podemos entender um recurso como o conhecimento adquirido. Mas poderia ser um
instrumento ou qualquer outra coisa que influencie positivamente no desempenho
deste profissional. Adotaremos, principalmente, o conhecimento para ilustrar o
raciocínio.
A questão sobre o valor: Os conhecimentos desenvolvidos pelo profissional, ao
longo de sua carreira, são considerados valiosos e permitem que este
profissional seja capaz de aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado,
bem como atenuar as ameaças que surgem no caminho? Vários são os exemplos de
atividades que em determinados momentos da história, o conhecimento adquirido foi
muito valorizado pelo mercado, tendo, porém, seus momentos de baixa perdendo o
valor relativo frente a outras competências que passaram a ser mais valorizadas.
Ou seja, o valor do conhecimento não depende somente da competência interna,
mas da relação com o meio. Um profissional com expertise em uma determinada
área muito especializada poderá ser forçado, por conta das condições de
mercado, a utilizar este conhecimento para desenvolver novas competências em
novas áreas, caso contrário, esta especialização será uma fraqueza para
enfrentar as condições impostas pelo mercado. Outro ponto importante a ser
mencionado é o fato de que um conhecimento adquirido, mas não utilizado, também
não gera valor.
A questão sobre a raridade: Dado que um conhecimento é valioso para o mercado,
outro aspecto importante é saber o quão raro ele é. Quanto mais raro, for o
conhecimento valorizado pelo mercado, melhor será o posicionamento deste
profissional para aproveitar as oportunidades oferecidas e para atenuar as
ameaças de uma forte competição, por exemplo. Um recurso valioso e raro pode
ser capaz de gerar uma vantagem competitiva, pelo menos temporária, frente aos
concorrentes.
A questão sobre “imitabilidade”: Se o recurso (por exemplo, o conhecimento) for
difícil de ser imitado, além de ser valioso e raro no mercado, este
profissional poderá ser capaz de criar uma vantagem competitiva sustentável
frente a seus cocorrentes. Um médico especializado em uma determinada área,
como estética corporal, é um profissional que possui, atualmente, um alto valor
para o mercado, é, de certa forma, raro, por não haver muitos profissionais.
Adicionalmente, ele possui recursos difíceis de serem imitados, principalmente
no curto prazo. Uma eventual imitação poderá ocorrer por duplicação ou por
substituição. Esta eventual duplicação leva em conta o tempo e o custo para que
isto aconteça e pode ser um elemento desmotivador e limitador para acentuar o
nível de competição. A substituição também traz questionamentos sobre o tempo e
o custo. Todavia, ambos os efeitos de imitação podem acontecer e, portanto,
voltamos a questão de quão raro de fato é o recurso utilizado. Outro elemento
que poderá dificultar a duplicação destes recursos é o grau de relacionamento
estabelecido com o mercado. Este é o tipo de ativo intangível, difícil de ser
mensurado, mas com um altíssimo poder para atenuar as ameaças de novos
competidores, pois é muito difícil de ser imitado ou copiado. Tão importante
quanto o relacionamento com o mercado pode ser o relacionamento estabelecido
com a rede social, que pode dificultar muito o acesso de novos concorrentes ou
pode facilitar a movimentação no mercado. Tomemos, como exemplo, um
profissional participante de entidades de classe, conceituado neste meio. Ou
até mesmo um profissional, igualmente conceituado, que mantém contato com
profissionais contratantes (head hunters).
A capacidade de mobilização deste profissional será muito maior do que outro
que não possua o mesmo grau de relacionamento e difícil de ser copiado. Por
último, mas não menos importante, o profissional poderá possuir algum tipo de
patente, ou similar, que o coloque em destaque frente ao mercado, protegendo-o
de possíveis ataques de competidores, ainda que por um tempo determinado, além
de permitir aproveitar-se das vantagens oferecidas pelo mercado.
A questão sobre a organização: O conhecimento adquirido pelo profissional pode ser
utilizado em sua plenitude pela organização a qual este profissional pertence
ou deseja pertencer? Este é um dos pontos fundamentais no processo de carreira
para explicar porque alguns profissionais não obtêm o sucesso desejado. O
problema pode não estar na pessoa e nos recursos desenvolvidos, mas na
organização. A escolha da organização é um fator chave para o sucesso, pois não
basta o conhecimento ser valorizado pelo mercado, raro e difícil de ser
imitado. Se o profissional não encontrar um ambiente onde possa, de fato,
utilizar este conhecimento, em sua plenitude, de nada valerá do ponto de vista
de criação de uma vantagem competitiva. Portanto, deveria haver uma grande
importância dada à questão de alinhamento cultural e de alinhamento
profissional com a organização. Vemos muitos processos seletivos onde os
requisitos são altíssimos, os benefícios muito atrativos, mas quando o
profissional ingressa na organização, ele vai se desmotivando e frustrando-se,
ao longo do tempo, por não poder utilizar aquilo que ele tem de melhor, de
valioso para ele, para a empresa e para a indústria. Muitas podem ser as razões
que levem isto a ocorrer. Independente das razões, caberá ao profissional
buscar o melhor posicionamento para exercer, de fato, sua vantagem competitiva
frente a seus concorrentes.
Como dizia o filósofo Peter
Drucker, o tempo é o recurso mais essencial que possuímos e que devemos tratar
com muito cuidado. Não sou contra as receitas de sucesso, mas se você não for
capaz de refletir criticamente sobre elas, de nada valerão. Busque algo para
sua carreira que, de fato, o mercado valorize, sem devaneios filosóficos ou
ideológicos. Procure fazer deste recurso algo raro e difícil de ser imitado.
Por fim, busque a organização que, através de seus valores, missão, visão, reflitam
o potencial de utilização destes recursos. Desta forma, qualquer regra de
sucesso será compatível com seu objetivo pessoal e profissional.
Boa semana.
Moacyr Ferreira